lista de compras: junho 2005

30.6.05

Para a J., com amor...

Tirei daqui, especialmente para ti:

beijas os sapos porque queres encontrar um príncipe, mas depois eles voltam a sapos; se um dia beijares um homem pode ser que encontres um Homem

Os factos da vida - II

Depois da literatura light, da música pimba e dos reality shows que chocam tanta gente, chegou o cabrão do preconceito e a rotulagem à blogoesfera.

Já sabemos que há blogues de referência. Aqui, ficamos a saber outras coisas....

Para mim, só pode haver uma explicação: a vasectomia atingiu-lhe os neurónios!

Os factos da vida - I

Aprendi hoje, aqui, que há blogoesfera de referência.

29.6.05

Hummmm.... Acho que prefiro este...


Rodrigo Santoro

Vê-se mesmo que o anúncio do novo Chanel 5 só pode ter sido feito por um gajo. Então alguém no seu perfeito juízo troca um colar de diamantes por um rapaz destes? Ó minha nossa senhora do Oloxum, de Iemanjá e santinhas afins!!!!!

Ora vamos lá animar isto outra vez!!! Yupiii!!


Reynaldo Gianechinni

Ao que parece, o rapaz separou-se da cinquentona boazona e inteligente que tinha um filho da idade dele. Eu não sou de especulações, muito menos me meto na vida alheia, mas olha, já que o rapaz se deixou daquela vidita de casado, quem sabe, não tarda está aí a fazer uma novela na TVI....

A mosca

Estou no trabalho (chiuuu, não digam nada a ninguém) e de repente uma mosca gigante decidiu poisar aqui num bocado de suplemento perdido do Diário de Notícias. Ela tem umas riscas e uns olhos muito vermelhos.
Seis patas. As duas da frente, as mãos, presumo, está a esfregá-las uma na outra enquanto se vai aproximando.

Decidi começar a teclar furiosamente para ver se ela se ia, mas a gaja tem garra. É rija. Não desiste. Agora está a mexer as pernas de trás tipo toiro em posição de arranque...

Olha, voou...

É, eu às vezes também gostava de ser mosca.

28.6.05

Verdade ou consequência? - II



VERDADE 1 - Esta manhã, no aeroporto de Lisboa, uma senhora cabo-verdiana com uma bebé de dois anos ao colo e um carrinho cheio de malas chorava na fila dos táxis. Ninguém a levava até à Cova da Moura, lugar onde ela vive. Quando muito deixavam-na na «bomba de gasolina na Amadora».

VERDADE 2 - Dois jornalistas em reportagem em Genebra, na Suíça, andavam perdidos à procura de um hotel.

CONSEQUÊNCIA 1 - A senhora ficou horas à espera, falou com um polícia que lhe disse que os taxistas podiam recusar-se a levá-la a um «bairro problemático». «Sabe onde a senhora vive, não é? Aquilo é um bairro problemático e eles podem recusar, é assim». E nada mais disse à senhora. Teve a sorte de aparecer um homem, guineense, que achou aquilo estranho. Veio ter com jornalistas que esperavam jogadores de futebol e perguntou-lhes se aquilo era possível... Alguns desses jornalistas, dois para ser mais exacta, foram averiguar...

CONSEQUÊNCIA 2 - Os dois jornalistas em Genebra pararam ao pé de um polícia a pedir indicações. O «cop» suíço sacou de um mapa da cidade, olhou, explicou-lhes o caminho....

RESULTADO 1 - O senhor guineense arranjou um contacto de uma associação de apoio às minorias étnicas, com sede em Lisboa, que estavam dispostos a levar a senhora à Cova da Moura. Os polícias não mexeram uma palha e ainda disseram a um dos jornalistas, porque não a leva lá você? Ao que ouviu, de pronto: os senhores é que têm de proteger as pessoas. A senhora acabou por entrar num táxi que, afinal, não teve medo e a levou à Cova da Moura.

RESULTADO 2 - O polícia suíço achou que o caminho para o hotel era, de facto, complicado. Virou-se para os jornalistas e disse: venham atrás de mim.

Há dias em que tenho vergonha deste país. E só me apetece chorar. Porque pensava em mim, com o meu filho ao colo, que tem a idade daquela menina portuguesa, a desesperar. A desesperar porque o governo do meu país, a polícia do meu país, não faz nada para proteger quem precisa. Para levar a casa uma pessoa.

É disto que se faz o racismo em Portugal.

26.6.05

Amar-te-ei até te matar


Grooming, Paula Rego


Lisboa, 24 de Junho de 2005
Café Medeia, 17h30

Estou à espera de quem me vai trazer lágrimas e não trouxe livro nem jornal, mas tenho um caderno e uma caneta na mala. Olho para a rua e lembro-me de um dia estar parada naquele semáforo. O jipe ao meu lado era preto. E decidi escrever à mão, caneta bic e caderno de papel reciclado. Foi há quantos anos? Ficou então assim, sem possibilidades de deletes ou copy-pastes:


O que fazer quando tudo arde?
O que fazer quando o ódio nos enche as veias, nos raia os olhos, nos estala o cérebro e a vontade é de matar?

Pára o carro no semáforo e ela olha para o lado.
A mão no queixo. Está perdida.
Ele mete a primeira e volta a ponto morto.
Acelera e desacelera.

Ela não busca nada para lá do vidro.
Nem um olhar, uma paisagem, tão pouco a mudança da cor do sinal.

Os olhos são vermelho sangue.

Morre. Morre cabrão.
Morre, que eu não tenho coragem de te deixar.
Morre que eu não consigo dizer que vou sair daqui para fora.
Morre que eu não tenho força para te tirar vivo do meio de nós.

Morre que eu chorar-te-ei com dor.
Morre que eu vestirei de negro.
Mas morre.

Morre, porque não te quero mais na minha vida.
Mas morre porque não suportarei ver-te na vida de mais ninguém.

Ela chegou com uma fotografia na mão e as lágrimas nos olhos. Fechei o caderno.

24.6.05

O direito ao gemido, já!


Maria Sharapova, «pior que a sirene da polícia»

Abolidas as cuspidelas luta-se contra os gemidos

Depois de ter conseguido "educar" os tenistas no sentido de deixarem de cuspir para o chão durante os jogos, a organização do torneio de Wimbledon pretende agora lutar contra os gemidos dos(as) atletas. O juiz-árbitro Alan Mills, que nesta edição encerra uma colaboração de mais de duas décadas com a prova por atingir a idade limite (65 anos), é o porta-voz da direcção de um evento que se revela "farto da poluição sonora".

Ontem, na sequência de um artigo publicado no jornal "The Sun" relatando o facto de os "grunhidos" de Maria Sharapova terem registado 101,2 decibéis - um barulho quase tão potente como uma sirene da polícia - após terem sido medidos pelo "gruntometer", Mills foi claro: "Gostava que esse tipo de ruído deixasse de existir".

em O Jogo


Ora bem, vamos lá por partes:

- acho bem essa cena do cuspir, até porque os apanha bolas não têm de andar a pisar a ranheta dos milionários jogadores

- agora, o gemido? Mas quem é esse gajo que se vai reformar e agora bitaita sobre os gemidos? Então uma gaja não tem direito a gemer? Mas que merda é esta? Ainda por cima ganhou, aliás, quando se geme, normalmente é porque se ganha qualquer coisa...

- eu só arranjo uma explicação para a fobia deste senhor. Ele é vizinho da Sharapova. É que se ela atinge 101, 2 decibéis com uma raquete e uma bola, imaginem o que ela não gritará quando joga com duas....

- e antes que isto descambe mais, aqui fica a foto da senhora e mais uma ideia para uma crónica do iluminado João César das Neves (da turminha do Mills com certeza) que já deve estar a pensar, por entre gemidos enquanto se chibata, que vai propor que as tenistas usem soutiens almofadados que é para não ficarem com as mamas neste estado quando ganham alguma coisa.

Haja decência, pel'amor de Deus!

23.6.05

Notícias da Costa...

.... da C aparica

- Ontem foi o meu primeiro dia de praia do ano (sim, eu sou da província, não tenho agulhas a espetar-me no rabo para me pôr aos saltinhos para a praia mal aparece o primeiro raio de sol)

- o biquini é novo e acho que funcionou bem

- sol bom, água maravilhosa (se bem que o meu termo de comparação seja a temperatura das praias ali da zona de Aveiro....)

- bastante gente, mas nada de insuportável

- os gajos que estavam ao meu lado falaram sempre de bola e em cada frase conseguiam dizer sempre um foda-se, um caralho, um merda. E eu, que até sou adepta do vernáculo, acabo por concordar que há que haver motivo para o uso da coisa, senão banaliza-se. Se não, vejamos:

- Ó caralho, bora lá jogar à bola!
- Foda-se, pá, deixa-me secar primeiro...
- Merda, meu, levanta-me esse cú, caralho.
- Ó, foda-se, não sabes que me tão a doer ainda as pernas comó caralho, pá?

- ainda assim, fiquei indecisa entre os vernaculadores e o metrossexual com que me cruzei no caminho para o areal. Comecei a olhar-lhe para os tornozelos. Estava muito bronzeado. Fui subindo (ele ia à minha frente) e achei aquela pelagem que ele tinha nas pernas esquisita. Os pêlos muito pretos e eriçados, facas afiadas, mesmo. Ultrapassei-o e olhei de soslaio para o peito. Fiquei chocada! Pêlos eriçados, aguçados como samurais, espetadinhos, espetadinhos, espetadinhos. Descobri, portanto, uma nova espécie: o gajo que está à espera que os pêlos cresçam o suficiente para voltar a ir à depilação. Conselho: as gajas, quando estão nesse estado, ou usam lâminas ou não vão para a praia, ok? Se querem tirar os pêlos, há que saber as regras! Dasse!

- o protector solar era bom, nada de vermelhidões, daí continuar pouco menos que transparente

22.6.05

Eu sabia que isto estava escrito em qualquer sítio*

Nem a loucura do amor, da maconha, do pó, do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator quando abre-se em flor sob as luzes no palco
Bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras e retinas
Nem uma doce oração, nem sermão, nem comício à direita ou à esquerda
Fala mais ao coração do que a voz de um colega que sussurra "merda"
Noite de estréia, tensão, medo, deslumbramento, feitiço e magia
Tudo é uma grande explosão mas parece que não quando é o segundo dia
Já se disse não foi uma vez, nem três, nem quatro
Não há gente como a gente, gente de teatro
Gente que sabe fazer a beleza vencer pra além de toda perda
Gente que pôde inverter para sempre o sentido da palavra "merda"
Merda, merda pra você
Desejo merda
Merda pra você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre a merda

Caetano Veloso

Isto só vem a propósito de uma palavra que afinal pode até nem ser tão feia assim. E que aqui se pode usar à vontade...

* o título tem direitos de autor, desta senhora aqui, mas não dava mesmo para encontrar outro que encaixasse tão bem.

21.6.05

As árvores de Gentileza


Saída do Eixo Norte-Sul para Telheiras, Lisboa

Onde se vêem aquelas 3 árvorezinhas plantadas, um canteiro verde numa encosta seca e maltratada, vivia um homem. Foi meu vizinho durante alguns meses. Gostava de pensar nele como o Senhor Gentileza, de quem a Marisa Monte fala, um velho das ruas do Rio de Janeiro que escrevia frases debaixo de uma ponte. Um dia, «apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, as palavras no muro, foram cobertas de tinta».

O meu vizinho Gentileza tinha longas barbas brancas, usava uma capa muito velha e tinha uma espécie de cajado. Abriu ali um buraco, onde dormia belas sestas, de cara descansada e corpo moído pelo tempo. Tinha uma lona por causa da chuva e alguns objectos de difícil identificação. Gentileza aparecia todas as tardes e ali pousava os seus pertences.

Até que um dia, Gentileza deixou de aparecer. Se calhar durante uns dias eu deixei de reparar. Agora já não tenho vizinho. Foi-se embora ou levaram-no, e deitaram-lhe abaixo a casa. Ficou um jardim perdido no meio da encosta em vez de um buraco com lixo, que podia ser lixo, mas era dele.

Da janela, agora, olho para as três arvorezinhas e penso onde andará Gentileza.... E fico a imaginar que este Senhor Gentileza, em vez de palavras, anda pela cidade a deixar árvores por onde passa...

20.6.05

Verdade ou consequência?

VERDADE 1: Um grupo de várias dezenas de pessoas negras assaltaram outras tantas na praia de Carcavelos, em Lisboa, Portugal.

VERDADE 2: Um português de raça branca é suspeito de ter degolado uma inglesa branca grávida, numa pequena cidade de Inglaterra

CONSEQUÊNCIA 1: Vários portugueses manifestaram o seu repúdio pelos indivíduos «mais uma vez serem pretos» e mandaram-nos «para a terra deles». Uns quiseram logo fazer uma manifestação.

CONSEQUÊNCIA 2: Portugueses habitantes da tal cidade e famílias portuguesas foram agredidas pelo facto de terem a mesma nacionalidade do suspeito assassino. Têm medo de sair de casa.

RESULTADO 1: O Governo Civil de Lisboa aprovou a manifestação de um movimento de nome nacionalista, que apela à xenofobia em plena zona da cidade mais frequentada por emigrantes. Os senhores, todos branquinhos como a cal, principalmente na zona do crâneo, diziam pérolas como «sou português há 850 anos, não comprei o passaporte no Martim Moniz». Mas diziam-se não-racistas.

RESULTADO 2: A polícia britânica decidiu alertar todos os cidadãos portugueses da tal cidade para o perigo que corriam e instalou-lhes em casa um dispositivo de alarme que, em caso de ataque racista, os põe em imediato contacto com as forças de segurança.

É comparar.

16.6.05

Isto estava a precisar de animar!


Fabio Cannavaro para a Cosmopolitan

Já que estamos em época de contratações, sugiro que comprem um gajo realmente bom de bola...

Infelizmente, vou ter de escrever aqui uma coisa que não queria

Incidentes de Carcavelos só dão origem a uma queixa
in Público

Além de quatro detidos apenas (e um foi por engano), só uma pessoa afinal é que foi roubada.... Mais, o Comandante da PSP de Lisboa tem o desplante de dizer: «Sempre foi comum juntarem-se vastos grupos nas praias de onde depois divergiam pequenos núcleos, de oito ou dez indivíduos que praticavam assaltos. Concluímos que na sexta-feira aconteceu o mesmo»

O que me leva a dizer o que eu não queria: cada país tem a polícia que merece.

15.6.05

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come...

A primeira vez que vi um arrastão tinha acontecido no Rio de Janeiro, pelas praias de Ipanema. Agora há-os por cá. A Cidade de Deus chama-se Cova da Moura, Carcavelos é a Ipanema portuguesa.

Sem querer desculpar quem pratica crimes, que esses devem ser punidos, também não me apetece passar por cima do que está por detrás desta violência gratuita, que o é. Porque também já deve haver gente por cá, portugueses de gema, a falar assim:

«Meu irmão, eu fumo, eu cheiro, já roubei, já matei ...Não sou criança não. Sou sujeito homem.»
in Cidade de Deus

Fui apanhada! Na rede...

1 - Tamanho total dos arquivos de música no computador.
- Zero. Cá em casa é proibido plagiar o que quer que seja. Tal como se vê pelo nome do blogue, quem quer, tem de comprar, embora eu já tenha tentado gravar o remix das Doce, mas tive medo do divórcio.... E não tenho i-pod, desculpem lá, porque não faço a mais pequena ideia onde é que se ouve essa merda. No carro ponho os cd, em casa uso a aparelhagem e nunca consegui andar na rua sem ouvir as pessoas.

2 - Último disco que comprei
- Por acaso já foi há algum tempo, porque arranjei uma colaboração do caraças onde escrevo sobre música e têm-me oferecido os cd's que vão saindo. Mas gostava de poder dar um saltito à Fnac para comprar Feist, a única mulher no mundo que conseguiu tornar bonita uma canção dos Bee Gees. É sintonizar a Radar...

3 - Canção que estou a escutar agora
Agora nenhuma, que o Jaime dorme.... Mas entre a Adriana Partimpim e Os amigos do Gaspar o meu filho delira com a Beth Gibbons no disco do Rodrigo Leão. E pensar que fui eu que o pari!... Que orgulho!

4 - Cinco canções que têm algum significado especial para mim
- Bom, isso depende dos dias. Mas pronto, já que querem listas, cá vai. Esta é baseada nas músicas que eu, cantora de automóvel e nos meus tempos áureos de algumas tertúlias, gostava de saber cantar assim como eles as cantam, e de outras também. Olha, é as que me lembro agora, pronto, para não estar com muitas merdas.
1. Beatriz, de Chico Buarque, na versão Ana Carolina. Bom, de Chico Buarque, todas mesmo. (estão a ver como eu não me contenho?)
2. Por Toda a Minha Vida, na versão Elis Regina, incluída na BSO de Habla con Ella, ilustrando a cena de toureio.
3. Yumeji's Theme, BSO de In The Mood For Love, de Wong Kar-wai. O filme é maravilhoso, a música é linda e nunca vi mulher mais bonita a descer umas escadas com uma marmita na mão para ir buscar õ jantar. E os vestidos, onde arranjou ela aqueles vestidos?
4. Tudo o que tenha a voz da Manuela Azevedo, da Marisa Monte, Feist, Maria João.
5. E pronto, Rosita, vou dar-te uma abébia: eu também tenho uma musiquita dos Bon Jovi. Never Say Goodbye foi o meu primeiro slow, numa festa do liceu, com o meu primeiro namorado. Dançámos muito juntinhos e ele deu-me um beijo no pescoço que nunca mais me esquecerei. A banda sonora, olha, foi o que se arranjou. Ao menos não era nada dos Europe...
6. Desculpem mas vou ter de acrescentar mais uma: Noites Passadas, do Sérgio Godinho, que me trouxe de volta o amor da minha vida. (isto é uma grande inconfidência, mas vá lá, ele merece.

Um dia sem flores, mas cheio de poesia


Foto de Alfredo Cunha


Para a Júlia, que em Vila Verde um dia me disse, devia ter uns seis anos, que adorava o Eugénio de Andrade. E que quando fosse grande queria ser poetisa e cavaleira.

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
Eugénio de Andrade

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser

- se a luz é tanta,
como se pode morrer?
Eugénio de Andrade

13.6.05

Alguém que o edite!

Só há um livro editado em português do cubano Reinaldo Arenas, Antes que Anoiteça. Mas ele escreveu mais. Em Cuba, escreveu e reescreveu o mesmo livro vezes sem conta, de cada vez que a polícia política lhe roubava os manuscritos e o metia na cadeia.

Escreveu antes de se suicidar em Nova Iorque e de deixar ao mundo o testemunho da sua vida entre Cuba, a Europa e os EUA.

Foi com ele que deixei de ler o Gabriel García Marquez. Passei a odiá-lo, quase.

Foi com ele que aprendi esta verdade (a citação é feita de cor, pode pecar por algumas palavras fora do sítio):

«Tanto o comunismo como o capitalismo democrático te dão pontapés no cú. A diferença é que no segundo podes gritar.»

Nestes dias que correm, há que abrir as goelas. E abri-las bem.

9.6.05

Chamo-me Dinis, sou o rei dos botões....



«Ao gravarmos o depoimento da Bárbara, por acaso o Dinis estava lá»
Edson Athaide, 24 Horas

«E ao fotografarmos o Carrilho com as colinas ao fundo, por acaso o Bairro Alto e o Castelo, de noite, sem ninguém ver, tinham trocado de lugar»
Fotógrafo anónimo...

... cujo cartaz já foi, devidamente retirado, ao contrário do pequeno Dinis que continua no filme, e que se fosse um bocadinho mais velho ainda corria o risco de ter de cantar nos comícios do «Papá».

8.6.05

Eu sim, sou uma dona de casa desesperada e com sono....

Fiquei acordada. A puta da série só começou à meia noite e meia. E eu que tenho de acordar todos os dias às seis da manhã lá me aguentei, estoicamente.

Acho que vi o episódio até ao fim. Mas isto é só um acho.
Por enquanto, eis o que sei da série do momento:

- Havia uma gaja que deu um tiro nos cornos não sei porquê, deixou um marido em negação e um filho que faz de pai do pai.

- Há uma gaja que tem bué da filhos, é loira, o marido trabalha muito fora e parece-me bastante porreira.

- Há uma gaja que tem um cabelo inimaginável, com aquela postura tão tesa não admira que ande num conselheiro matrimonial com o marido, que não me parece também lá grande coisa.

- Há uma divorciada cujo ex a trocou por uma atrasada mental com ar de adolescente mais burra que as burras americanas. Mas cheira-me que não tarda vai comer aquele gajo quase bastante giro que vi passar numa bicicleta algures a meio do episódio.

- Há uma gaja bastante boa que tem um marido horroroso mas muito rico e fode com o jardineiro. Azar do caraças, foi apanhada por uma daquelas crianças que toda a gente deseja nunca ter como filho. Mas como tem pastel, acho que vai desembolsar a bicla à miúda...

Foi isto. Não sei se afinal elas foram jantar ou não.
Acho que ainda não estou habilitada a fazer o teste. Até porque, confesso, estou com um pouco de receio....

Desesperada sou de certeza. É que no meio disto tudo deitei-me com o vestido que tinha usado durante o dia, não pus o despertador a tocar e foi o meu marido, que saiu do jornal às tantas da matina que me acordou às 06.10 da manhã.

Agora, qual será, daquelas todas, a mais parecida com uma gaja under thirty (por pouco tempo, muito pouco), com um filhote lindo, um marido que às vezes penso que não é possível existir - e que ainda por cima tenha sido eu a encontrá-lo - e que faz estas figuras por causa de uma série de televisão?

7.6.05

Às vezes vale a pena...

O dia de ontem fez-me pensar que às vezes vale mesmo a pena ter esta profissão que tanta gente maltrata, por vontade própria ou por imposição, mas que não é indiferente.

E então pus-me a fazer um filme da minha curta carreira jornalística. Curta, mas animada e muito movimentada.... Um filme só das coisas boas, que é para não precisar de ser uma trilogia...

Se eu não fosse jornalista:

- Não tinha ajudado a ajudar aqueles seis miúdos que viviam num contentor de cargas de navio numa chamada Quinta do Anjo que mais parecia um inferno. Eles cheiravam tão mal, mas abraçavam-me de tal maneira que era impossível não retribuir. E nunca mais me vou esquecer da menina com um colar ao peito, só para mostrar que era menina. E do rapaz de 12 anos que fingia que sabia ler. E do que tinha ido de Palmela a Lisboa porque se queimou e do que tinha a orelha mordida por um rato.

- Não tinha ido a Entre-os-Rios e não tinha chorado com o silêncio sepulcral que centenas de pessoas fizeram quando chegou o Presidente da República e uma voz lancinante gritou: tirem-os de lá!

- Não tinha entrado atrás de um burro e do Manuel João Vieira no Tribunal Constitucional.

- Não tinha conhecido a mais bonita e maravilhosa escola deste país, a Escola da Ponte, que é a única razão por que tenho pena de não viver em Vila das Aves

- Não tinha conhecido a Mafalda Milhões, que aos 24 anos me provou que todos os sonhos se podem tornar realidade, nem que para isso se vá de caravana para uma feira internacional do livro infantil montar um stand com apenas um título para mostrar

- Não tinha conhecido alguns dos meus melhores amigos. Do peito, mesmo.

- Não tinha percebido o que é ver um filho a morrer em directo na televisão a milhares de quilómetros de distância. Mesmo que a mãe não percebesse uma palavra do que eu dizia e vice versa. Abraçámo-nos.

- Não tinha passado a tarde de ontem ao telefone com a Rititi e o Miguel Góis a rir às gargalhadas, como se nos conhecêssemos de algum lado....

- Não tinha estado onde prái seis milhões de gajos pagariam o salário de um ano para estarem quando o Benfica foi campeão...

- Não tinha percebido que se pode arruinar a vida a uma pessoa assim de repente, em meio segundo, em vinte caracteres, em 35 frames. Ou salvar-lhe a vida no mesmo espaço de tempo.

- Ah, e como fui visitar a fábrica da OLÁ, pude queixar-me que os Pernas de Pau em tamanho grande não prestam para nada porque roubam no morango e enjoa comer aquele branco todo e que o Epá sem a pastilha a sério lá no fundo também já não é o mesmo. Também lhes fiz perceber que aqueles gelados só mesmo de gelo que na altura custavam para aí 7$50 também podiam voltar...

- Agora, a minha próxima investida será às bombocas, as verdadeiras, que as de morango eram uma bela merda....(isto é um wishfull thinking...)

- OK. Aguentei-me até à meia noite. Vou finalmente ver as Donas de Casa Desesperadas. Até porque quero fazer o teste. Cabrão de vício....

6.6.05

A culpa é da Tucha

Pronto, já percebi de onde vem todo este vernáculo nada digno de uma menina, que podia ser princesa, mãe de um rebento de 15 meses, que ainda deveria estar avassalada pela maternidade e pela pureza da nova alma que lhe saiu do ventre.

A culpa é dos meus vizinhos de infância e da Tucha.

Passo a explicar: eu era a única rapariga no meu prédio e, portanto, nada de bonecadas ou merdices dessas. Saias, só quando me obrigavam. Em todas as fotografias da escola, da primeira à quarta classe eu sou aquela de cabelo curto, camisa de flanela aos quadrados, calças de bombazine e ténis sanjo pretos com riscas amarelas de lado. Roçados mais no pé direito de jogar à bola.

As marcas nos joelhos eram de jogar ao «cai-cai» em cima das biclas. Como o nome indica, a ideia era atirar ao chão os outros sem cair da sua própria bicicleta.

Quando queria uns ténis novos, a bicla também dava jeito. Ia para a rampa da Estação e travava a fundo com os pés no chão. Assim se gastavam as solas, assim apareciam uns ténis novos. Na altura, o meu sonho era ter uns Le Coq Sportif. Usei-os até à exaustão. Só jogava andebol com eles calçados, até que os dedos me saíssem lá de dentro.

Mas a Tucha é que deu cabo de tudo. Eu tinha uma amiga, a Sandra, que era uma verdadeira princesa. Sempre de vestidinho, muito branquinha, uma boneca. E ela tinha uma outra amiga que era a Carla. Bem comportadinha na escola, nunca levou chapadas do professor nem canadas no rabo e muito menos ficou de joelhos de castigo ao lado da carteira (sim, eu fui sujeita a estas sevícias e mesmo assim cheguei a ameaçar com um pau um puto estúpido que estava a dizer mal do meu professor. A minha mãe é que o salvou...).

Voltando à Tucha que, para quem não sabe, era a versão Barbie dos anos 80. Ora eu só tinha uma e não lhe ligava puto. Tinha umas roupitas, sempre as mesmas e só mudava de look quando eu lhe cortava o cabelo, cada vez mais curto até que ela parecesse uma daquelas miúdas a quem escortanham a trunfa com uma navalha.

Já a Sandra e a Carla, com as suas Tuchas de cabelos longos, loiros e lisos, tinham o guarda-roupa inteiro. Camisinhas, casaquinhos, sainhas, calcinhas, fios, elásticos. E volta e meia convidavam-me para ir brincar com elas. Eu lá ia, com a minha desgraçada Tucha, sabendo o que me esperava. Uma tarde a brincar às bonecas, sendo que a minha pouco podia fazer. Não tinha roupa para vestir, não tinha tábua de passar a ferro, nem sequer cabelos para fazer tranças.

Ora foi aí que tomei uma atitude: acabaram-se a merda tas Tuchas, bola é que é, porrada com o vizinho de baixo, que é um queixinhas, quase todos os dias, e apenas uma concessão à feminilidade: orelhas furadas para deixar de entrar nas lojas e me perguntarem: «O que é que o menino quer?»

E foi assim, que eu passei de princesa a gaja. Pronto, a coisa foi melhorando. Aos quinze anos deixei de ter os joelhos mais largos que as próprias coxas e cresceram-me mamas. Fui para o grupo de ginástica acrobática embora namorasse com o gajo do teatro que fumava charros e se embebedava com bagaço às oito da manhã.

Entrei para a faculdade que queria. Tinha boas notas. Beijei muita boca linda. Apalpei mutos rabos bons e encontrei o melhor homem do mundo. Agora tenho outro cá em casa. Pequenino, mas traquina, como se quer.

E isto tudo, foda-se, valeu mesmo a pena.

E era preciso?

«PESSOAS ANORMAIS»

Um psiquiatra disse isto ao Correio da Manhã, que fez este título, a propósito dos concorrentes da Quinta das Celebridades.

É preciso consultar um psiquiatra para chegar a esta brilhante conclusão? Só falta o homem acrescentar que a culpa é da mãezinha deles todos... (menos no caso da Lili Caneças, nessa a culpa é da Corporación Dermoestética)

Ai! Ai, ai...

Alguém do mulherio que anda por aqui viu o Tom Cruise na entrega dos MTV Awards? Ai, ai, ai... Assim que conseguir pôr a fotografia aqui juro que ponho, para quem não viu.
Porque aposto que quem viu, jamais esquecerá.

E onde raio é que ele arranja aquele cabelo, cada vez mais giro? Cabrão do gajo!

3.6.05

Estás desculpado.

Se eu soubesse, naquele sábado em que me deixaste pendurada porque não foste ver a casa que eu desesperadamente precisava de vender, que escrevias assim, já te tinha perdoado há mais tempo.

«Para viver alegre é preciso aprender a tolerar o vazio. Não esperar nada da vida e substituir o medo da morte pelo gozo de viver. O medo do nada pode provocar um inconsequente excesso de actividade. Como quem anda tão depressa que não sai do mesmo sítio. Derrapa. Há coisas que só se resolvem com voluntarismo, mais a maior parte delas só lá vai com a inteligência»

Se eu soubesse que ias fazer feliz uma amiga minha já te tinha perdoado ainda mais cedo.

Um beijinho.

Esta, só pode ser para rir...

Escreve-se na revista Sábado:

«Faltas de educação e civismo são as situações que mais irritam os portugueses(...) De entre os 17 povos europeus ouvidos numa sondagem efectuada pelas Selecções do Reader's Digest, o português é o mais irritado»

E depois, o sociólogo (ih, ih, ih, não consigo parar de rir, a sério) diz: esta exasperação «explica-se pelo percurso ainda curto da aprendizagem da democracia e da tolerância em Portugal»

Bem, eu não sei quem eles entrevistaram ,se a cambada de gajos que atira lixo para todo o lado, se os que mijam na rua, ou então, se calhar, entrevistaram só os que vivem em Bruxelas.

E depois, pergunto eu ao sociólogo, que deve ser um senhor muito respeitado: eu, que não vivi no tempo do fascismo, não me lembro nada de os meus pais me dizerem que na escola ensinavam às criancinhas a terem falta de civismo.

Não podia haver aglomerados de mais de cinco pessoas, não se podia dizer mal do Governo, nem fazer greves, nada disso, e prendiam-se pessoas a torto e a direito, mas creio que mandar para o caralho o gajo que não anda à velocidade que devia andar, apitar a torto e a direito e ser mal educado nos serviços públicos e ter taxistas a mandar à merda os outros condutores e gente a escarrar para o chão não era muito bonito também...

Ó meu, o Salazar teve culpa de muita coisa, e eu prezo a liberdade inteirinha sem concessões de qualquer género, mas isto também já me parece um pouco de mais... Então o homem também fez de nós «feios, porcos e maus» e nem em 30 anos nós conseguimos mudar?

Não me lembro bem do tempo ao certo, mas parece-me que o Macaco do anúncio demorava apenas dez minutos a aprender a reciclar. Olha que estranho. O Salazar foi de tal maneira, que até nos deu cabo do cérebro e muita desta gente que vive neste canto, nem em 30 anos aprendeu a sequer colocar o lixo dentro dos contentores.

Espera lá, se calhar o Macaco sempre viveu numa democracia. Talvez afinal o sociólogo tenha razão...

2.6.05

E agora, para algo completamente diferente II....

Na senda das coisas sérias e tristes que tenho de acrescentar a esta minha lista de compras, aqui vai mais uma.

As gajas, como se sabe, parem. As gajas, como se sabe, depois de parirem, ficam de licença de parto. As gajas, ainda assim, têm os seus trabalhos e, vejam só, algumas delas gostam de ter uma carreira, uma profissão que as realiza e não lhes puxa por aí além dedicarem-se à vida exclusiva de mães-em-casa-heroínas-que-abandonaram-os-trabalhos-para-tomar-conta-dos-filhos e que agora pululam nas revistas como as verdadeiras mulheres com M grande do século XXI. (Nada contra elas, atenção, tudo contra quem quer fazer delas o exemplo que deve ser seguido. A cada um a sua opção).

Só que a gaja, porque pare, e porque fica quatro meses em casa (a empresa não gasta um tusto com isto), não pode ficar impune. Porque a gaja não pode engravidar assim sem mais nem porquê. Então engravidas e queres aumentos? Ai ficas em casa quatro meses e queres prémios de produtividade como os outros, mesmo os que coçaram os tomates doze meses mas que os coçaram dentro das instalações laborais?

Ó minha amiga, tu pare para a frente, mas depois não venhas cá com merdas de quereres subir na carreira. Além disso até ficaste mais gorda e o puto até adoece de vez em quando e não te fartas de encher o computador com fotografias do rebento. De tal maneira que até os directores informáticos te obrigam a retirar as fotos da máquina.

Mas deixa lá, a gente manda-te um ramo de flores para casa quando o crianço nascer e no Natal até lhe damos um brinquedozito. Pena que neste Natal em particular tenham distribuído um cabrão de um boneco recomendado para crianças a partir dos cinco anos e o rapaz ainda nem um anito tinha....

Lá está a gaja a queixar-se. Isto das hormonas fode-lhes a cabeça. É por isso que preferimos contratar homens. Não choram se os mandarmos para o caralho, não têm filhos e ao menos faltam por razões válidas, como pôr os carros na revisão.