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28.6.05

Verdade ou consequência? - II



VERDADE 1 - Esta manhã, no aeroporto de Lisboa, uma senhora cabo-verdiana com uma bebé de dois anos ao colo e um carrinho cheio de malas chorava na fila dos táxis. Ninguém a levava até à Cova da Moura, lugar onde ela vive. Quando muito deixavam-na na «bomba de gasolina na Amadora».

VERDADE 2 - Dois jornalistas em reportagem em Genebra, na Suíça, andavam perdidos à procura de um hotel.

CONSEQUÊNCIA 1 - A senhora ficou horas à espera, falou com um polícia que lhe disse que os taxistas podiam recusar-se a levá-la a um «bairro problemático». «Sabe onde a senhora vive, não é? Aquilo é um bairro problemático e eles podem recusar, é assim». E nada mais disse à senhora. Teve a sorte de aparecer um homem, guineense, que achou aquilo estranho. Veio ter com jornalistas que esperavam jogadores de futebol e perguntou-lhes se aquilo era possível... Alguns desses jornalistas, dois para ser mais exacta, foram averiguar...

CONSEQUÊNCIA 2 - Os dois jornalistas em Genebra pararam ao pé de um polícia a pedir indicações. O «cop» suíço sacou de um mapa da cidade, olhou, explicou-lhes o caminho....

RESULTADO 1 - O senhor guineense arranjou um contacto de uma associação de apoio às minorias étnicas, com sede em Lisboa, que estavam dispostos a levar a senhora à Cova da Moura. Os polícias não mexeram uma palha e ainda disseram a um dos jornalistas, porque não a leva lá você? Ao que ouviu, de pronto: os senhores é que têm de proteger as pessoas. A senhora acabou por entrar num táxi que, afinal, não teve medo e a levou à Cova da Moura.

RESULTADO 2 - O polícia suíço achou que o caminho para o hotel era, de facto, complicado. Virou-se para os jornalistas e disse: venham atrás de mim.

Há dias em que tenho vergonha deste país. E só me apetece chorar. Porque pensava em mim, com o meu filho ao colo, que tem a idade daquela menina portuguesa, a desesperar. A desesperar porque o governo do meu país, a polícia do meu país, não faz nada para proteger quem precisa. Para levar a casa uma pessoa.

É disto que se faz o racismo em Portugal.