E não é que deu?
Esta semana tenho andado a ouvir o novo disco do Sérgio Godinho. Tem sido ele que me tem acompanhado nos momentos em que quis mandar tudo às urtigas. A última faixa do disco chama-se «Só neste país» e diz assim: «Só neste país é que se diz só neste país.»Foi neste país que, faz hoje oito dias, nos deparámos com a situação que abaixo descrevi. Em oito dias, um grupo de pais mobilizou-se para tentar resolver um problema que, achámos nós, só poderia acontecer neste país.
Em oito dias resolvemos a questão que se arrastava há um ano e meio por entre papéis e formalidades e queixas e técnicos e assessores e vereadores. Fizemo-nos ouvir, mandámos mails, pusemos notícias nos jornais, fomos a sessões na Câmara Municipal, tivemos reuniões, gastámos tempo, dinheiro e desgastámo-nos. Principalmente desgastámo-nos. Hoje soubémos que tudo valeu a pena.
Hoje fiquei a saber que neste país, onde acontece tudo sem mais nem porquê, porque talvez é este país, às vezes as coisas resolvem-se. Às vezes fazemo-nos ouvir. Às vezes há justiça nas decisões, bom senso nas tomadas de posição, esforço, trabalho e, pasme-se, soluções.
Custou? Custou, mas valeu a pena. Em oito dias salvámos 44 crianças de terem de mudar de creche a meio de um ano lectivo, numa solução apressada e nem sempre bem ajuizada, salvámos o emprego a 15 pessoas, aliviámos o peso de 88 pais. E conseguimos tornar um canto ali em Campolide num sítio mais justo.
E vejam lá, que foi tudo aqui mesmo. Neste país.