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26.6.09

Michael Jackson

A verdade é que há muito que não pensava sequer nele. Ofereceram-me o Thriller no meu último aniversário, mas há uns meses que não o punha a tocar. Vi uma reportagem há uns anos com ele em Neverland, arrepiou-me a forma como os seus filhos andavam na rua (de burqa) e de cada vez que lhe mirava a cara pensava que ia desfazer-se. Mas ontem, quando ao telefone me alertaram - o Michael Jackson teve um ataque cardíaco - não me lembrei de nada disso.
Colei-me à CNN - é inacreditável a pequenez dos nossos canais de notícias, salvou-se a SICN que foi a única a conseguir aguentar uma hora e meia de emissão minimamente decente - agarrei-me ao twitter e ao facebook e comecei a sentir-me estranha.
Um sentimento de perda, um aperto pequeno no coração, a incredulidade perante a morte de um homem que, havendo imortalidade, a ele lhe pertenceria de certeza. Comecei a procurar no youtube e encontrei Say, Say, Say, com Paul McCartney. Lembro-me tão bem daquele teledisco, do tempo em que os telediscos eram telediscos, lembrei-me do fato branco na capa do Thriller de vinil que a minha amiga Sandra tinha e com o qual ensaiávamos programas de rádio só com músicas do Michael Jackson, lembrei-me que cheguei a tentar imitar a coreografia de Bad com resultados fraquíssimos, é óbvio, e que sempre que ouço a música Heal the World me dá vontade de chorar, sabe-se lá porquê.
Tendemos sempre na morte a minimizar qualquer coisa de errado na vida das pessoas que afinal nunca conhecemos. Não faço ideia se era verdade que ele abusou de crianças, não faço ideia por que razão ele fez o que fez ao seu próprio corpo, não faço ideia se chegou alguma vez a ser feliz - talvez ali entre o Thriller e o Bad tenha sido.
Michael Jackson foi, como todos nós, o homem e as suas circunstâncias. Tantas que nunca conhecemos. Por isso nos recordamos daquilo que era visível e de certeza verdadeiro: o seu talento.