De volta ao Atlântico frio
Sinceramente, depois de dez dias no Brasil, não consigo mesmo entender a razão do raio do acordo ortográfico. Aquilo serve para quê? Para que a língua que é a mesma fique mais parecida? Na escrita? Para nos encherem de arrepios e dores de cabeça quando virmos a palavra redação e quando nos esquecermos de que agora é fato e não facto?
Dez dias e quatro pessoas depois a responderem-me em espanhol em terras brasileiras ao meu sotaque português, não entendo para quê a ortografia semelhante quando as diferenças vão continuar a existir e a fazerem-nos lembrar de que somos sim diferentes e ainda bem.
Que graça teria se nos compreendessemos todos assim tão bem?
Já não me responderiam em Espanhol a um simples, «Olá, como vai?»
Não teria conhecido dezenas de palavras novas, também é certo que não teria feito figura de otária nas entrevistas quando as pessoas ficavam com cara de parvas a olhar para mim dizendo: desculpa, não entendi.
A não ser que queiram aceitar estas singelas sugestões e passem a legislar sobre a forma como nos devemos referir a certas e determinadas coisas. Seja para um lado seja para o outro, bora lá sistematizar isto que não se anda para a frente se não formos todos formatados, toca a pôr a t-shirt cinza e a correr pela marginal a dizer em voz alta:
Casa de banho ou banheiro?
Radar ou pardal?
Pitons ou travas?
Pequeno almoço ou café da manhã?
Balneário ou vestiário?
Penso higiénico ou absorvente?
Vir-se ou gozar?
Partida ou trote?
E poderíamos continuar por aqui fora, estas foram só algumas das que eu aprendi e que me lembro agora.
Deixem-nos linguajar como a gente bem entende, que na diferença é que está o ganho.
Já agora, dava jeito era um acordo que fizesse com que o Atlântico cá fosse tão quente como o Atlântico lá. Assim podíamos beber água de coco até cair.