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24.3.08

A escola

Sim, vi o video, sim acho que a aluna se portou muito mal, sim, acho que os colegas são uns trogloditas.

Não, acho que não é com suspensões que se resolve isto, não, não acho que a professora lhe devia ter dado um par de estalos, não, não acho que a professora se tenha portado bem e não, não acho que estatutos do aluno e leis e o caraças resolvam este tipo de problemas.

Lembrei-me de escrever sobre o assunto depois de ler este texto aqui.

E lembrei-me de uma conversa que tive com uma pedagoga que tinha em casa problemas com o filho. O miúdo não gostava da escola, dizia que odiava a professora, dizia até outras coisas piores que roçavam a vontade de ser violento. Tinha más notas, obviamente, andava triste.

Até que a mãe decidiu mudá-lo de escola. E então este rapaz foi para uma escola onde em vez dos erros a vermelho no ditado se apontam a azul as palavras certas. Onde um dos trabalhos de casa era fazer uma redacção onde se inventasse uma poção para exterminar professores, onde a sala de aula parecia um lugar meio mágico.

Ao fim de duas semanas este rapaz começou a chegar a casa a dizer: «Mãe, eu afinal sei de matemática! Eu afinal sei muitas coisas de português.»

A atitude de todos, conta. E a atitude desta professora perante uma aluna mal comportada também não foi a melhor. Decidiu entrar numa guerra física que não podia ganhar, decidiu baixar ao nível da rapariga, decidiu ser tão parva como a miúda. Todos nós sabemos. Comportamento gera comportamento e se não é o adulto dentro daquela sala a manter um comportamento decente, não se pode esperar que sejam os adolescentes a fazê-lo.

Tudo aquilo me parece demasiado mau. Não só a miúda como os colegas. Faz-me lembrar o meu décimo ano, quando a professoar de alemão foi substituída por uma rapariga que trabalhava na secretaria da escola e que, por ter vivido na Alemanha, foi promovida a professora.

Nunca ninguém lhe bateu, nem houve actos de violência. Mas enquanto ela falava para o boneco pintavam-se unhas, jogava-se póquer de dados, e chegou a haver algumas manifestações menos próprias para uma sala de aula. Se fazíamos isto com todos eles? Claro que não. Éramos uma cambada de mal comportados? Nem por isso. A atitude dela determinava por completo a nossa? Claro que sim.

Por isso sempre me chateia que perante aquela cena - gostava de ter visto a aula toda filmada já agora - se venha logo falar em tabefes e suspensões. Como se isso, alguma vez, tivesse resolvido o que quer que fosse.