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18.3.08

Eichmann, o novo Schindler.... para o DN

Na página 30 do DN de hoje está um texto cujo título é «O arquitecto do Holocausto que terá ajudado a salvar 800 judeus».

Este texto baseia-se neste trabalho publicado no Sunday Times.

Li primeiro o texto do DN e, achando logo à partida estranho que a parte do texto que origina o título estivesse no último parágrafo (o grosso do texto é sobre o percurso de Eichmann), mas que, pior, diz «uma história que agora veio a público e que está a gerar paralelismos com Oskar Schindler», fui directa à procura do texto do Sunday Times.

Que não é um texto, como o do DN, mas um trabalho jornalístico. A comparação com Schindler apenas surge na fórmula usada para o título. Aliás, fica sempre em aberto por que razão aquelas 800 pessoas sobreviveram no meio de Berlim.

Mas percebe-se rapidamente que o coração de Eichmann terá tido pouco a ver com isto. Primeiramente, o hospital manteve-se para ludibriar muitos dos judeus berlinenses e passar informação falsa sobre os campos de concentração. Depois, serviu para albergar membros da chamada Lista B, que desapareceu debaixo do braço do director do hospital, e que alegadamente continha nomes de judeus casados com alemães não-judeus e/ ou pessoas muito influentes politica e economicamente.

Termina assim o trabalho do Times:

«The survival of the Jewish Hospital and its 800 Jewish prisoners remains, therefore, a mystery. But there is no doubt that their murder had been deliberately delayed by Nazi order.

Had the Russian liberators not reached Berlin when they did, each one of those Jewish men and women would have eventually been sent to the gas chambers. Hitler’s solution was always to be “Final”. The only compromise was over when exactly that finality would come.»

O texto do DN quase parece portanto um trabalho elaborado pelas ordens de Lustig. Sim, 800 pessoas foram salvas - ou não foram mortas a tempo - o nome de Eichmann aparece ligado ao hospital mas nunca se sabe porquê, mas vamos lá compará-lo com o Schindler, que apesar de não ser um santo, não há registos de que tenha estado encarregue de mandar exterminar milhões de pessoas.

Não percebo se isto é má consciência ou apenas mau jornalismo. Parece-me mais válida a segunda hipótese. O que é estranho. Parece que agora até a copiar se fazem asneiras.