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22.8.05

A culpa é dos filmes

Eu tenho graves problemas de (in)decisão. Não, não ando na terapia, mas tenho a noção das coisas.

Por isso nunca quis ser o que sou desde pequenina.

Comecei por querer ser investigadora da Polícia Judiciária (pus de parte, mas pratico os meus dotes de interrogatório de vez em quando). Na altura, Dempsey & Makepeace tiravam-me o sono. Nem sou polícia, nem nunca consegui ter aquele corte de cabelo com franja e mais comprido à frente do que atrás.

Depois quis ser hospedeira. Só pelas viagens. Mas achei que ser empregada de mesa, ainda que no ar, não era assim tão aliciante.

Depois pensei em ser advogada. Durante muito tempo quis ser advogada. LA Law e as trezentas séries de advogados norte-americanas faziam-me sonhar com alegações finais. Depois lá percebi que por cá a coisa não era bem assim....

Bom, o que eu queria mesmo era ser cantora - por causa dos discos que ouvia e das cantorias desde que me lembro de existir e de descobrir, volta e meia que sei de cor Cd's inteiros. Não sou cantora, mas sou uma juke box. Só por isso é que papei a Operação Triunfo todinha. Votei e tudo. Sim, é verdade.

Acabei a ser outra coisa. Dá para perguntar, dá para viajar e dá para tentar fazer alguma justiça. Bom, às vezes, nem sempre, quando calha, ou não.

Ontem esteve a dar O Informador. Eu sou o Al Pacino, com menos fontes, a mesma raiva, os mesmos ímpetos, mas sem a casa na praia e sem o sistema judicial norte-americano, muito menos a imprensa norte-americana.
Que pena não me terem dito antes que isto não era como nos filmes, que pena....

Se calhar, tinha dado uma boa engenheira civil, mas por que raio não faziam filmes sobre engenheiros civis? As vigas, o cimento, os projectos, a ponte que cede, os tijolos de fraca qualidade, as fraudes nos orçamentos, e o engenheiro, o grande herói que consegue impôr que tudo tem de ser feito com os melhores materiais, que consegue arranjar a baixo custo, que não suborna fiscais, lhes acata as ordens e faz modificações e que trata os trabalhadores, a começar pelos trolhas, com respeito.
E depois as pessoas passam e compram as casas lindas e a bom preço e tudo funciona.

Era um bom argumento. Eu tinha ficado convencida.