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13.8.05

Crónica de um encontro anunciado (o título é para alguns fãs)

O convite chegou numa caixa de comentários: «Jantar lá em casa na sexta-feira?»
É verdade que eu me rio à brava com o que ela escreve, e comento, e trocamos conversas, mas tudo por detrás de um teclado que não nos permite ver caras, mas achamos que permite ver um pouco dos corações.

Isso é o que achamos até ao dia em que se coloca o convite.
O frente-a-frente. O mano-a-mano.

Como era quase impossível ir - não tinha babysitter, estava com trabalho até à ponta dos cabelos - não pensei muito no assunto. Mas afinal apareceu quem ficasse a tomar conta do rapaz e eu, com uma sandes e uma sopa no bucho desde a uma da tarde, lá peguei no telefone, morta de fome e com o cheiro do churrasco já a entrar-me pelas narinas, e falei com ela. Ouvi-lhe a voz pela primeira vez, mas foi como se já nos conhecêssemos.

Vem, vem, vai ter ali, por acolá, quando chegares dá um toque que eu vou-te buscar, já sabes, tenho um Panda. Fiz-me à estrada, IC 19 fora.

Mas decidi acautelar-me. Afinal, isto dos blind dinners era novo para mim e nunca se sabe, com o que se vê todos os dias nas televisões e se ouve na rua, deus-nosso-senhor-nos-livre-e-guarde...

Liguei ao Alexandre e disse-lhe: o número dela está no meu mail. Se eu não aparecer até amanhã vai procurar-me em Sintra. Chama a polícia, faz qualquer coisa. Ainda não satisfeita, deixei mensagem na Dona Ema, que é perita em casos de perdidos e achados.

Cheguei. Estacionei. Quatro piscas ligados e zac! fiz o telefonema. Ninguém atendeu.
Mandei mensagem: tou aki.... Nada.

Olho para o lado e um rapaz com ar atarantado, de quem espera alguém, chama-me a atenção. Será que este também tem um blogue e vai ao jantar? A dúvida dissipou-se rapidamente. Ele desapareceu.

Nova mensagem: carro com 4 piscas. tá aki um gajo q parece a tb vai à festa. espera, n, desapareceu. tenho fome....

Nada.

Bom, antes do estrangeiro que queria saber onde era a «jeneira» (queria ele dizer, depois de muito esforço, GNR), já eu pensava em ir afogar-me nos travesseiros da Periquita e voltar para casa. Mas como era possível? A gaja é fixe, disse-me para vir. Eu vim. Estou aqui e nada.

Até que o abençoado telefone toca. Era ela, estava a caminho o telefone tinha ficado no carro, desculpa, desculpa. Ok, vem lá. Bora, sigo atrás de ti.

O Panda apareceu e fui atrás dela num rallie pelas ruelas de Sintra afora (nunca vi um Panda andar tão depressa, juro). E lá cheguei. Ela tem o cabelo curto, pensava eu que era comprido. Havia comidinha e da boa. Depressa se arranjou uma mesa e umas cadeiras, que isto o tuga não gosta lá muito de comer em pé, e olha, foi assim numa noite de Sintra em que a nuvem privativa desapareceu e o vento soprou para outros lados que ficámos na conversa até às quatro da manhã.

Éramos ora baixos, ora altos, gordos, magros, mais velhos, mais novos, gostávamos mais disto ou mais daquilo.

Não gostávamos era de posts muito longos. Como este. Mas lá que o entrecosto sabia bem, lá isso sabia.