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10.11.09

Tempo

Nunca quis chegar cedo de mais. E quando deu por ele no meio do Inverno, sozinho, e com a casa pela metade não percebeu se queria partir o resto das estantes, queimar os livros, riscar os discos, rasgar as cartas, partir os quadros, dobrar os talheres, furar as paredes, escortanhar os sofás, cortar as goelas de alguém que não conhece mas que quer ver morto.
Nunca quis chegar a tempo. A tempo de apertar um parafuso, cheirar as páginas dos poemas, encostá-la a uma parede, romper pela vida dentro como se o dia terminasse ali. A tempo de pendurar um vestido, fechar o perfume que ficou tombado em cima do armário da casa de banho a cheirar a molhado de um corpo que se deixou a pingar pelo chão.
Nunca quis chegar tarde.