E não é que deu?
Esta semana tenho andado a ouvir o novo disco do Sérgio Godinho. Tem sido ele que me tem acompanhado nos momentos em que quis mandar tudo às urtigas. A última faixa do disco chama-se «Só neste país» e diz assim: «Só neste país é que se diz só neste país.»
Foi neste país que, faz hoje oito dias, nos deparámos com a situação que abaixo descrevi. Em oito dias, um grupo de pais mobilizou-se para tentar resolver um problema que, achámos nós, só poderia acontecer neste país.
Em oito dias resolvemos a questão que se arrastava há um ano e meio por entre papéis e formalidades e queixas e técnicos e assessores e vereadores. Fizemo-nos ouvir, mandámos mails, pusemos notícias nos jornais, fomos a sessões na Câmara Municipal, tivemos reuniões, gastámos tempo, dinheiro e desgastámo-nos. Principalmente desgastámo-nos. Hoje soubémos que tudo valeu a pena.
Hoje fiquei a saber que neste país, onde acontece tudo sem mais nem porquê, porque talvez é este país, às vezes as coisas resolvem-se. Às vezes fazemo-nos ouvir. Às vezes há justiça nas decisões, bom senso nas tomadas de posição, esforço, trabalho e, pasme-se, soluções.
Custou? Custou, mas valeu a pena. Em oito dias salvámos 44 crianças de terem de mudar de creche a meio de um ano lectivo, numa solução apressada e nem sempre bem ajuizada, salvámos o emprego a 15 pessoas, aliviámos o peso de 88 pais. E conseguimos tornar um canto ali em Campolide num sítio mais justo.
E vejam lá, que foi tudo aqui mesmo. Neste país.
Dá para parar e pensar?
A creche Os Mestrinhos (
www.osmestrinhos.pt) funciona há quatro anos. É uma vivenda bonita na Calçada dos Mestres, em Campolide, com vista para o parque de Monsanto. O meu filho está lá desde os seis meses e tem agora dois anos e meio.
A creche é bastante boa. Não há crianças a mais nas salas, as educadoras são atenciosas e a cantina excelente. Tem terraços com espaço para eles brincarem ao ar livre. O Jaime adora a escola e isso nota-se.
Esta semana fomos confrontados com a iminência de fecho da creche. O problema é que a vereadora Eduarda Napoleão, do executivo de Pedro Santana Lopes, decidiu, em Maio de 2005, não atribuir licença de utilização para a creche, isto depois de ter aprovado o projecto três anos antes. Com o projecto aprovado, a segurança social foi acompanhando as obras e deu todas as licenças necessárias para que a creche abrisse. Mas como ainda não havia a licença definitiva, o alvará que deu à creche era provisório.
Perante a posição assumida pela Câmara em 2005, a Segurança Social começou a fazer diligências junto da autarquia para que o problema fosse resolvido. Isto porque os argumentos da Câmara Municipal são os seguintes (e não estou a ocultar nada, por estranho que possa parecer): a creche viola o PDM, porque segundo o mesmo, este tipo de estabelecimentos equipara-se a uma loja ou um escritório que devem obedecer a determinadas regras. A saber, só podem estar situados em lojas de prédios, em ruas com mais de vinte metros de largura, entre outras. Perante esta interpretação do PDM, é impossível que se possa instalar uma creche numa zona de moradias. E é por isso que a CML não dá a licença.
Durante mais de um ano a segurança social tentou que a Câmara mudasse de ideias. Não conseguiu, desistiu e agora vê-se impedida de passar o alvará definitivo.
Nesta creche estão 44 crianças e nela trabalham 15 pessoas. Os pais, reunidos ontem, ficaram estupefactos com esta decisão da Câmara e vão tentar intervir. Porque ninguém aceita que se feche uma creche com óptimas condições por ordem de uma vereadora do urbanismo, a mesma que deixou, por exemplo, construir uma bomba de gasolina ao lado de uma escola em Telheiras (aqui o PDM já não conta para nada).
Além disso, são variadíssimas as creches em Lisboa que se localizam em zonas de moradias, zonas essas, a meu ver, privilegiadas. São à partida mais tranquilas, as casas têm mais espaço e podem ter zonas exteriores para as crianças brincarem ao ar livre.
Eu fui visitar algumas creches quando o meu filho nasceu. Vi uma no Lumiar numa loja de um prédio. O berçário tinha uma parede de vidro que dava para a rua onde passava toda a gente. Ficava ao nível do passeio. Lá dentro, não existia luz natural e muito menos havia um espaço ao ar livre. Que eu saiba, esta creche ainda funciona, apesar de um dos requisitos da segurança social seja a obrigatoriedade de espaços exteriores e de luz natural.
Outra, em Telheiras, noutro prédio. Espaço exterior: uma varanda onde estavam guardados os materiais de limpeza da creche. E por aí fora.
Claramente não é por falta de condições para as crianças que esta creche está em risco de fechar...
O presidente da Câmara de Lisboa, os vereadores que compactuam com esta decisão, nunca pensaram nas crianças que ali estão nem nas pessoas que ali trabalham. São todos cegos e surdos perante um qualquer papel assinado por um qualquer técnico. Perante a demissão do Estado português e da autarquia em proporcionar estabelecimentos públicos que permitam o acolhimento destas crianças - elas também cidadãs deste município - o mínimo que se pedia era que olhassem duas vezes, que fossem ver, que se interessassem. Mas não. Todos devem andar preocupados com coisas mais importantes nas suas vidas.
Se a CML não mudar de posição, a creche fecha em Dezembro. Quinze pessoas ficam no desemprego e 44 crianças ficam sem escola. E agora, com o ano lectivo já iniciado, onde vão as pessoas encontrar escolas para os filhos? E onde encontram uma escola com estas condições?
Se nada se conseguir, sr. Carmona Rodrigues, dá para ficar com os miúdos lá em casa?
Vá, todos comigo: O-BRI-GA-DO
Não foi à toa,
como aqui se pode verificar, que assim que esta sequência de eventos me aconteceu, pensei que devia partilhá-la.
Para fazer tempo, e como afinal não apanhei assim tanta bicha a ir para a margem sul, parei uma hora no Almada Fórum. Ver umas montras, quem sabe comprar finalmente a gabardine que preciso e comer antes de ir para mais um trabalho.
Nada de mais.
Entro na Zara em busca da bendita gabardine, que tem de ser preta. Vi uma mas era muito cara e, como ia a passar um empregado, perguntei-lhe se havia outras pretas.
Numa situação normal, o empregado diria:
- Sim, veja ali ao pé de ....
Mas não é que o rapaz foi comigo, mostrou-me as outras gabardines, abriu-lhes os botões, ajudou-me a vesti-las, deu a sua opinião sobre a que achava que ficava melhor - e deu bem - voltou a pô-las nos cabides, agradeceu e disse que se voltasse a precisar de ajuda podia chamá-lo?
Eu, de tão aparvalhada, apeteceu-me levar as gabardines todas, mas acabei por sair da loja a pensar que, sei lá, devia ter ido falar com a responsável do tasco, dizer-lhe que aquele rapaz devia ser promovido, ou pelo menos receber o galardão de funcionário do ano de todas as Zara do país.
Já atrasada, resolvi ir comer qualquer coisa e escolhi o Shoarma. Ainda eram sete horas da tarde e por isso pouca gente jantava. A rapariga que me atendeu recebeu o pedido do menú e ali fiquei à espera, um bom bocado. Quando trouxe a lafa e as batatas fritas, provei, e vi que estavam moles e frias. Arrisquei e disse, quase esperando que a moça me olhasse de lado como estamos infelizmente bastante bem habituados.
Errado. Ela prontamente respondeu que sim senhora, fazia já outras, levava menos de cinco minutos. Não contente, assim que estavam fritas levou-mas à mesa e com um sorriso disse, DESCULPE E OBRIGADA.
Conclusão: ela não se chateou, eu fiquei satisfeita e todos continuámos as nossas vidas sem ter de lhes juntar mais uma arrelia ou um enfado.
Será que é assim tão difícil?
Sim Manuel, é isso mesmo
Siendo el periodismo una de las profesiones más arriesgadas, es al mismo tiempo una de las más desprestigiadas. Son innumerables los idiotas y truhanes que andan metidos en este oficio, en el que se hace patente una de las lacras del mundo moderno: la diferencia insondable que existe entre el poder de los medios de comunicación y la debilidad de pensamiento o las bajas pasiones que lo sirven. La charlatanería, la maledicencia y la estupidez cubren hoy el planeta a caballo de las más refinadas conquistas de la técnica. Aquel tonto, que era feliz con un lápiz, hoy puede haberse convertido en un descerebrado con un micrófono en la boca dedicado a lanzar insultos al prójimo, que a través del universo pueden llegar hasta los pies del Altísimo, el cual se queda tan ancho; o en un ambicioso cuyos delirios de grandeza se convierten cada mañana en titulares espasmódicos de periódico o en chantajista capaz de sacar tajada de la debilidad humana. Sobre esta basura mediática se ven obligados a sentarse otros periodistas que sólo pretenden cumplir con su deber de informar correctamente a los lectores. Son unos profesionales anónimos, duros de pelar, fiables e incombustibles. Cada mañana llegan a la redacción y tratan de cocinar ordenadamente toda las miserias del mundo que vomitan los cables, sin esperar nada de la vida que no sea poder mirarse al espejo sin sonrojarse. No hay forma de que se sorprendan de nada. Ninguna catástrofe le hará mover una ceja. Cuando se cumple la hora exacta, al final de una jornada de trabajo, apagan el ordenador, se toman una copa en un bar y vuelven a casa, se estiran en el sofá y en el momento del telediario sólo miran la pantalla de soslayo porque conocen cada noticia desde el revés de la trama. Y despues están los héroes. Si el periodismo es una profesión muy arriesgada es porque también está servida por unos tipos, que no dudan en acercarse al plato del mastín, jugándose el pellejo, con el único propósito de servir a la dignidad humana y al derecho de la sociedad de estar informada de las brutalidades de los tiranos. La periodista rusa Anna Politkóvskaya baleada recientemente al salir de su ascensor en Moscú estaba escribiendo una crónica que sabía muy bien que le podía costar la vida. Pese a todo, no bajó los brazos. Otros están en la cárcel o mueren en las guerras. Esta profesión seguirá podrida por la base mientras estos héroes y tantos periodistas insobornables deban compartirla con una caterva de idiotas y pequeños canallas.
Os meus inimigos são piores que os teus*
O zapping pode ser perigoso. Estava eu neste exercício uma noite destas quando, ao passar pelo canal :2, me deparei com a Maria do Céu Guerra a falar sobre as quotas das mulheres para o parlamento. Era um programa chamado A Revolta dos Pastéis de Nata.
A Maria do Céu Guerra estava a favor, e contra, a Teresa Caeiro, do PP. A moderar esta conversa estava um gajo com um boné ridículo, que às tantas decide dizer esta pérola (atenção que a transcrição não é à letra, mas a ideia, garanto, está lá):
- Eu nunca percebi por que é que existe o Dia da Mulher. É assim como pôr as mulheres ao nível da árvore...
Ora bem - e já estou com calores só de escrever isto, sinceramente - eu até nem queria ir ao ponto de dizer que este gajo, além de ter mau gosto para acessórios, é um imbecil. Mas vou ter de o afirmar.
E só também não digo que o gajo tem cérebro de pastel de nata, porque os pastéis não o merecem.
*DR
Talvez então um personal shopper
A sério que me custa a compreender. Aqui no local onde trabalho a moda ocupa um lugar fundamental na vida das trabalhadoras do sexo feminino. Não, não estou a falar de uma fábrica de têxteis do Vale do Ave, mas de um open space muito open nos arredores de Lisboa.
Passo a explicar. Ainda ontem vim trabalhar de manga curta, estava bastante calor e por isso as minhas gavetas continuam pejadas de roupa de Verão. Mas hoje, hoje está um dia de Outono. E quando começa o Outono, numa qualquer manhã, olhando para o roupeiro, a coisa mais sensata parece-me sempre escolher o clássico camisa branca/calças de ganga/botas. Foi o que fiz.
Eis senão quando entro no space really open e deparo-me com uma montra da colecção Outono/Inverno 2006-2007 em todo o seu esplendor. Pois que as gajas já têm tudo o que é camisola da moda, cinto da moda, bota da moda, pentado da moda, saia da moda, calção da moda, the works.
Portanto, chego à triste conclusão que não sou suficientemente gaja ainda. Porque me faz confusão comprar roupa de Inverno quando o calor aperta e nem sequer sou suficientemente organizada para ter já preparado em casa o modelito que irei usar na manhã em que o Outono chega.
Pus-me então a pensar que a ideia tola do personal shopper (gajo/a que vai às compras contigo ou por ti, ainda não percebi bem) até me tinha dado jeito.
No entanto, sobram-me algumas dúvidas sobre este novo serviço tão personal:
- dizem eles que não é muito caro, mas quantas camisolas deixava de comprar para lhes pagar os fees (parece-me bem manter o nível de conversação em inglês)?
- eles é que vão comprar sozinhos? ou temos de marcar uma tarde no Chiado?
- compra-se tudo para a estação de uma vez? ou podemos ligar-lhes tipo, eh, pá, hoje apetece-me ir às compras, tou com uma neura desgraçada, vens comigo?
- se eles só sugerirem coisas que não gostamos podemos pedir a devolução do dinheiro?
- e já agora, muito importante, dá para o shopping de outros materiais? É que, lembrei-me agora, mais do que um vestido novo precisava mesmo era de alguém que me enchesse o frigorífico....