Os afectos
Duas raparigas decidiram assumir a sua relação homossexual numa escola em Gaia. Foram proibidas de se beijarem e o director argumentou que os beijos e as manifestações de afecto são proibidas na escola, independentemente da orientação sexual.Ora digamos que o argumento é esfarrapado. E se não é, pior ainda. Que raio de escola é que proíbe «manifestações de afecto e beijos»? Que raio de gente é suposto sair de uma escola sem ter tido um namorado, sem ter dado uns linguados, ou uns amassos ou simplesmente ostentar o seu amor passeando de mão dada no recreio?
Queremos ser como uma escola dos Estados Unidos que um dia expulsou um rapaz de seis anos porque ele beijou uma menina na cara e ela não queria? Queremos que os nossos filhos cresçam sem os afectos? Queremos que os nossos filhos não tenham experiências amorosas na adolescência? Queremos que os beijos sejam proibidos? Queremos que não haja tolerância? Queremos reprimir o amor adolescente, na sua intensidade, na sua descoberta, nos seus desgostos, em tudo aquilo que nos faz crescer e aprender?
Então que raio de miúdos vão ser aqueles, sem nunca terem para contar que foram curtir para trás do pavilhão, que aquele rapaz ou rapariga nunca lhe ligou, que na festa da escola até dançaram um slow e ele encostou a cara à dela, que a melhor amiga afinal é que ficou com o rapaz mais giro da escola, que escreveram na carteira joão loves catarina na esperança de ela se reconhecer naquela mensagem de amor?
Neste caso, um qualquer «ana loves inês» deveria ser apenas o upgrade de uma sociedade que preza a igualdade e a liberdade.
Mas parece que não.