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8.11.05

O Ódio

Há dez anos, era noite escura e saía eu do cinema Nimas, ali na 5 de Outubro. Um nó na garganta e apenas uma palavra me saiu da boca enquanto caminhava pelas ruas sem gente: foda-se!

O medo fazia com que as minhas batidas cardíacas aumentassem. A última cena do filme. Aquela pistola apontada a uma cabeça. O tiro.

Um filme a preto e branco do francês Mathieu Kassovitz, que anos mais tarde encarnou o romântico fotógrafo na Paris limpa de Amélie Poulain, contou-me a história de Said, Vinz e Hubert, três jovens franceses filhos de emigrantes que viviam na periferia de Paris. Nos escuros e monocromáticos subúrbios de prédios velhos e feios, de ruas com lixo, de gente com sonhos sem futuro.

O filme foi legendado em França, tal era difícil perceber que língua falavam aqueles três amigos, aqueles três rapazes que Kassovitz chamou para lhes apontar uma câmara e mostrar ao mundo a realidade nua e crua.

La Haine. O Ódio. Um filme que explica tudo. Um filme que não serve para perdoar ninguém. Nem os repressores, nem os reprimidos, nem os opressores nem os oprimidos, nem os revoltados, muito menos quem pensa que a violência é o caminho. Venha ela fardada, de fato de treino ou envolta num véu.