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4.8.05

Filhos, filhos....

É por duas razões tão opostas, tão opostas, para duas pessoas que estão em lados tão opostos, tão opostos, que este poema lhes assenta, às duas, que nem uma luva.


Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebeu amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Vinicius de Moraes in "Antologia Poética"

Fui buscar aqui, blogue que recomendo às duas pelas mesmas opostas razões.

PS: e a mim já me chega a angústia porque vou ficar três dias sem o ver... Filhos, filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-lo?