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5.12.06

A vida como ela às vezes é*

Porque uma gaja às vezes não sabe bem o que esperar dela. Porque nos ensinaram que temos de ter prazer na vida, mas depois pedem-nos que sejamos sempre uma série de coisas porque tem de ser.

Porque nos enfiam sistematicamente pelos olhos dentro as fotografias das mulheres que nem pensaram em estudar porque já sabiam que iam ter muitos filhos e iam ficar em casa a tomar conta deles e assim é que deve ser. Porque se deixamos de levar o nosso filho à creche e é o pai que o começa a fazer alguém desconfia. Porque se compramos muita comida pré-cozinhada torcem o nariz. Porque se gostamos que continuem a olhar para trás quando a gente passa algo está errado. Porque se nunca nos passou pela cabeça viver à custa do marido é porque não gostamos assim tanto dele. Porque se achamos estranho que os homens nunca pensem noutra coisa senão neles em primeiro lugar e que ninguém os julgue por isso estamos a ser intransigentes e castradoras. Porque se queremos ter mais prazer na cama e o dizemos alto e bom som é porque somos desvairadas. Porque se ficamos cansadas depois de acordar, trabalhar, ir buscar o filho, fazer jantar e não conseguimos estar frescas e radiantes somos umas frígidas. Porque se queremos ter sucesso no trabalho somos más mães.

Porque não aceitamos ser o prolongamento de um outro e perder a identidade.
Porque gostamos de ser mães sem deixarmos de ser mulheres.
Porque queremos ser amadas e bem fodidas.
Porque desejamos ter sucesso no trabalho.
Porque queremos, tão só, ser iguais no deve e haver.

E é por isso que tantas vezes nos lixamos.

*também a propósito disto aqui