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6.9.06

De fato de treino roxo na festa do Avante

Diz que eu também sou preconceituosa. Tenho ideias pré-concebidas, julgo à partida sem esperar pelo fim, e que sou ainda capaz de julgar os outros que, como eu, também são preconceituosos mas têm preconceitos diferentes dos meus. Ora pensando melhor sobre o assunto, decido assim sair do armário e assumir que sim, é verdade.

Tudo isto começou por causa da ideia de se fazer um encontro. Local: Monsanto. Levar: comida e bebida. Um piquenique, portanto. E eu, sentada no meu preconceito, apenas perguntei se também tínhamos de ir de fato de treino roxo... Felizmente o almoço foi mudado para um restaurante e eu já não tenho de fazer cara de gaja-enjoada-que-tem-a-mania. Provinciana com muito gosto, suburbana jamais! Ou seja, ir para a beira do rio com cinco ou seis ou vá, lá, dez pessoas, levar um lanchinho e depois dar uns bons mergulhos tudo bem, ir de geleira para o meio da cidade de Lisboa, com um rádio às costas grelhar entremeada é que nem pensar.

Outro dos meus preconceitos prende-se com o Partido Comunista Português e com essa coisa estranha que é defender a democracia acima de tudo, dizer mal muito mal do Fidel, da China comunista e de todos os regimes ditatoriais, sejam eles de esquerda ou de direita. Tempos houve em que a minha luta se resumia a recomendar a biografia do Reinaldo Arenas a todos quantos aos meus ouvidos gritavam e juravam a pés juntos que Cuba é outra coisa. Ou então a dizer cobras e lagartos do Gabriel Garcia Márques de quem não lerei uma linha mais.

Ora eis senão quando este fim de semana me vejo a caminho da Festa do Avante! O motivo era forte: o meu filho adora Sérgio Godinho e íamos lá ver o concerto. Era a minha primeira vez na dita festa e ia portar-me como uma senhora.

Chegados ao Seixal comecei logo a bufar para dentro. A merda do parque de estacionamento mais perto - diga-se mais de 500 metros - era pago. Porque os gratuitos eram longe comó cacete e isto de levar um puto de dois anos e meio ao colo pesa. Toca de me armar logo em capitalista e tumba, lá saquei dos quatro euros para assim deixar o carro o mais perto possível.

Ora lá chegados, a poeirada causou-me a segunda irritação da noite. Mas adiante, que passou depressinha. O camarada Jerónimo já tinha acabado o discurso, o que fez com que toda a gente decidisse ir jantar. Eu que pensei que lá poderia haver assim umas barracas com umas comidas mais leves, os vegetarianos, os biológicos, nada. Não vi nada, pelo menos naquele espaço onde me movimentei. Os stands diziam Castelo Branco, Santarém, Beja, e serviam comida a sério, desde feijoada a entrecosto. O problema eram as bichas, claro está e ficámo-nos por isso por um prego ranhoso.

De caminho parei numa barraquinha vazia e pedi uma coca-cola. Não sei se foi o meu olhar preconceituoso, mas aquele «não temos» soou-me um bocado mal. Paciência, seja então uma Superbock.

O Jaime adorou o concerto e o ambiente estava porreiro. No final fomos jantar. Sopa de feijão muito boa, arroz e carninha grelhada. Pavilhão de Castelo Branco. Lá tive de evitar fazer cara feia ao amigo que me ofereceu um cigarro com a inscrição na t-shirt Cuba há-de vencer, ou qualquer coisa do estilo que eu quase fechei os olhos para não ler aquilo.

Numa volta pela blogoesfera li que havia por lá um pavilhão das FARC. Não vi, mas não me admira.

Demorei uma hora a sair do Seixal e outra para passar a ponte.

Falharam-me, ao contrário da Rititi, os mojitos, as caipirinhas, os petiscos. Não comprei lenços palestinianos nem t-shirts com a cara do Che Guevara. Limitei-me a parar na barraquinha dos Tocárufar. Foi apenas dos bombos que se fez a minha festa.

PS: comprei um bilhete a um gajo por menos cinco euros, o que me deu um certo gozo... o capitalismo, meus caros, é isto mesmo...