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5.9.06

O desastre de parir

Acabei de receber um mail com este título. Um mail que contém um texto que saiu no El País, escrito por Rosa Montero. Um texto que fala da maneira como se nasce em Espanha. Ou melhor, da maneira como se dá à luz em Espanha. E a maneira é igual à portuguesa.

Já aqui uma vez escrevi contra aquelas que chamei as Marias Aparecidas das Dores do Parto. Não mudei de opinião quanto ao básico, mas aprendi umas coisas entretanto. O básico, para mim, é poder escolher sem recriminar quem toma diferentes opções da nossa. E fazer uma escolha informada.

De tal forma me faz confusão quem diz que o parto é uma experiência orgásmica como quem o considera um acto puramente médico, controlado até à quinta casa em prol daqueles que agem, os médicos.

Eu tive um parto induzido. Uma episiotomia que sempre pensei ser necessária. Cheia de epidural, não dei um ai. Correu bem. Mas podia ter corrido mal. Quase fui para cesariana e hoje percebo que não me apanham noutra. Sucumbi aos argumentos do obstetra que jurava a pés juntos que assim é que tudo está controlado, assim é que não falha, assim é que não dói.

A dor é aqui importante. E é aqui que muitas vezes discordo das correntes naturalistas do parto, anti-epidural. Porque continuo a achar que se conseguimos tirar a dor, sem que daí advenham grandes contraindicações, então é bom fazê-lo. Ninguém arranca dentes sem anestesia só porque a avó assim o fez e está viva para contar. Sou pró-epidural, embora não critique quem a recusa, obviamente.

Diz-me a minha amiga João - que passou de «adoradora» dos anestesistas a «militante» do parto natural - que há outras formas de contornar essa dor. Conta-me ela nas dezenas de artigos que tem feito que há países onde as banheiras de dilatação estão por todo o lado, que há aromaterapia, acunpunctura e outras formas de retirar ou amenizar a dor. Tudo bem. Mas ainda bem que há epidural, remato sempre eu.

Para mim a questão está no antes da anestesia. Por que raio nos colocam deitadas - e ainda por cima sempre para o mesmo lado - sem que aproveitemos essa coisa fenomenal que é a lei da gravidade para que a dilatação se faça melhor? Por que razão temos de parir naquela posição maldita, que não dá jeito para nada a não ser para fazer as ditas criancinhas e não para deitá-las cá para fora. Por que maldita ideia é que em alguns sítios ainda rapam os pelos púbicos e mandam fazer clisteres?

A resposta é simples: porque dá jeito ao senhor doutor. Tal como deu jeito ao meu médico que o Jaime nascesse numa quarta-feira, mesmo que isso implicasse eu fazer uma cesariana, visto que os riscos numa indução aumentam de forma louca.

A episiotomia então apanhou-me completamente desprevenida. Nunca me havia passado pela cabeça que era um acto muitas vezes desnecessário, mas pior, que era um acto que podia levar a lacerações maiores. Bastava, de facto, ter pensado nas leis da física: cortando um bocadinho é mais fácil que rasgue... Tudo isto nos causa estupefacção quando vemos os dados de outros países, onde as taxas de epiosiotomia são muito mais baixas e nem por isso as taxas de lacerações são maiores. Mas por que raio é que ninguém me explicou isto antes? Por que razão é que eu não tive uma palavra a dizer? Porque o senhor doutor é que sabe, ora lá está.

Ainda não estou no patamar da João, siderada com os partos em casa, com as mulheres a parir a a fazer festas na cabeça do bebé. Mas já estou noutro diferente daquele onde comecei.

Porque obtive informação, porque comecei a pensar noutras soluções. Soluções que o meu país ainda não oferece, mas se calhar porque as mulheres não pedem. Porque no dia em que começarem a exigir melhores condições de nascimento em vez de perguntarem se os quartos têm televisão, talvez os hospitais - pelo menos os privados - se decidam a oferecer mais.