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11.7.05

No tempo das Tuchas....


Foi neste rio que eu aprendi a nadar, andava prá'i na terceira classe e mal começava o Verão, lá íamos nós para o Lenteiro do Rio, onde o Sul e o Vouga se encontram. Íamos com a minha avó Celeste, que levava o farnel e tínhamos de usar sandálias de borracha por causa do lodo das pedras.
A minha avó tinha muita paciência e muito medo também quando nos aventurávamos até à outra margem - ao pontão - onde havia uma corda para dar grandes saltos para a água.
Nesta ponte que aqui se vê passava apenas um carro de cada vez. Às vezes ficava confuso, mas nada de grave. Naquela casa que reflecte na água havia a mercearia da avó do João Heitor, que também era a senhora que sabia cozer as «trigamilhas» - um pão maravilhoso - que já adolescentes comíamos às carradas, cheios de manteiga, a altas horas da madrugada.
Era por esta ponte que se entrava na minha terra. Era por esta ponte que eu ansiava quando ia no autocarro que me trazia de Lisboa para casa, depois de mil curvas e contracurvas.
Era nesta ponte que eu cheirava o meu rio, que eu cheirava as minhas árvores, que eu me lembrava dos piqueniques e de aprender a nadar com a minha avó de quem ainda me lembro muito também.
Esta ponte já não passa de uma miragem, assim como a casa, assim como o rio agora interdito a banhos por estar poluído.
Esta ponte foi substituída por outra em que passam dois carros ao mesmo tempo, até dois camiões!
Esta ponte desapareceu.
A avó do João Heitor há muito que havia fechado a mercearia e as trigamilhas já não se fazem, embora ainda lhes consiga sentir o sabor na boca.
A casa foi abaixo. Passa lá agora uma faixa de betão.
Se conseguissem passar esta ponte, entravam numa terra cheia de verde e casas de pedra, solares de marqueses e quintas.
Agora antes da ponte há uma rotunda com uma estátua foleira do S. Pedro, o padroeiro lá da terra, e no sítio das quintas haverá um Lidl do lado direito e o centro de saúde do lado esquerdo, acompanhado por uma variante que vai «rasgar» o caminho para as termas.

A minha tia diz que o Lidl lhe vai dar jeito.

Eu só consigo dizer que me roubaram as memórias.