Password: JOAO
A João, Johnny, que ela não gosta que a chamem de Maria João, porque gostava mais de ser Rita João, é minha amiga desde fins de 1993, princípios de 1994. Nessa altura tinha uns cabelos muito compridos aos caracóis e um nariz arrebitado com sardas e uma amiga que alguns pensavam que era irmã dela, a Miriam, esta com cabelos lisos e longos e olhos doces.Davam muitos risinhos, sentavam-se na fila da frente do anfiteatro 001 e tinham muitas histórias para contar. Às vezes baralhavam-se porque já não sabiam se o que contavam tinha acontecido a uma ou a outra. Funcionavam por osmose.
Conhecemo-nos melhor nos fins de tarde na esplanada da faculdade quando eu exibia os meus dotes de anedotista que acabava por partilhar com o agora meu marido. Um dia disse-lhes, a elas, ou a uma delas, não importa porque o que se diz a uma diz-se à outra: aquele é que era um bom namorado para mim, pena estar ocupado e parece que gosta mesmo da miúda. Afinal fiquei com ele. Adiante.
A João e a Miriam eram às vezes irritantes na sua amizade sempre felizarda. Porque tinham muitas coisas em comum, porque se riam sem sequer falarem. Mas tinham outra coisa maravilhosa: sabiam fazer caretas como ninguém. A João de velha desdentada e a Miriam de taínha. Ainda hoje não há ninguém que as bata nesta tarefa.
Há pouco tempo, separaram-se dos namorados com quem viviam há uns anos. E é aqui que acaba e recomeça a osmose destas almas. A Miriam encontrou outro amor, a João perdeu dois ao mesmo tempo. Agora vivem juntas. A velha na casa da taínha.
A taínha seguiu a nadar para outros rios e mares e a velhota desdentada ainda está a recompor-se, mas está a ficar linda outra vez. O cabelo tem um corte novo, o gancho fica-lhe bem, as novas roupas ficam-lhe a matar.
Alexandre - A João está muito gira. Achas que lhe diga ou achas que ela leva a mal porque pode pensar que lhe estou a dizer isto porque ela está triste?
Rita - Estás parvo? Diz-lhe, porque é verdade.
Ele disse-te? Se não te disse, digo-te eu. Password: joao. J -O- A- O, Maria João. A Andreia sai do computador e fica no coração até seres uma velha desdentada, cheia de filhos e netos lindos.
Isto, veio a propósito disto:
Andreia
É a minha password. A primeira palavra que escrevo todos os dias.
Automaticamente.
A-n-d-r-e-i-a. Enter.
Às vezes engano-me e sai Andriea ou qualquer coisa parecida. Distracções. Mas o computador, generoso, dá-me sempre mais uma oportunidade. Ou duas. E eu, quase sem ver as teclas, que os dedos já as conhecem de cor, lá acerto.
O dia começa então no meu ecrã e preparo-me para organizar pensamentos e ideias. Ainda escrevo a minha palavra-passe mais um par de vezes, que sem ela não posso entrar em muitas casas.
E lembro-me:Olha aqui mãe, ai que tonta (bate com a maozita na testa), enganei-me, olha aqui João. E penso:Tontita.Seis anos. Ela tem seis anos e já faz listas de compras. E diz coisas como eu agora tenho dois namorados e como é ser prima?
E começa as frases quase sempre com um "mas". Mas a minha mãe também tem 30 anos.
É linda, claro. Transparente. Cheira a futuro. Mas eu não quero morrer (num dia em que o assunto, vá lá saber-se porquê, apareceu na mesa do pequeno almoço) sem voltar à Barragem de Montargil.
Gosta de: Barbies, puzzles, livros, filmes (Incríveis, Shrek, Nemo e cª ilimitada), jogar à bola, andar de baloiço, nadar, desenhar, pintar com aguarelas, pensar, falar sozinha, cantar, lavar as mãos com água quente, fazer ondas na banheira, andar de bicicleta, massa com fiambre e natas, gelados, chupas, ouvir histórias, navegar na internet, sites de bonecas famosas, roupas cor-de-rosa, sempre cor-de-rosa, cães, imprimir folhas com desenhos para colorir, muitas, saltar em cima da cama, andar descalça.
Não gosta de: que a mandem fazer muitas coisas, que lhe digam que às vezes ela parece uma bebé e de rabos-de-cavalo. Em Setembro vai para a escola. Aprender a ler mas eu não quero aprender a ler!
porquê? porque depois já não me lês mais histórias. e outras coisas importantes.
Está uma crescida. Não é minha. Mas faz parte de mim.
Tu agora vai ter muitas saudades minhas?, pergunta ela às vezes. Vou, princesa, vou.