Adélia e Eu
Não gosto nada daquelas correntes em que temos de escolher cinco qualquer coisa sobre nós e a vida e os livros e os discos e sei lá mais o quê. Mas li aqui este post da fabulástica Madame Mean e achei que isto é que dava uma boa corrente... Eu vou experimentar.Aqui fica o meu Adélia e Eu:
Meu Deus,
me dê cinco anos.
Me dê um pé de fedegoso com formiga preta,
me dê um Natal e sua véspera,
o ressonar das pessoas no quartinho.
Me dê a negrinha Fia pra eu brincar,
me dê uma noite pra eu dormir com minha mãe.
Me dê minha mãe, alegria sã e medo remediável,
me dá a mão, me cura de ser grande.
Ó meu Deus, meu pai,
meu pai.
(Adélia Prado)
Meu Deus,
me dê cinco anos.
E me traga a neve que me molhava as mãos,
o musgo frio que apanhava nos muros.
Me dê a voz da minha avó ao adormecer,
e a mão da minha mãe na barriga que me tirava a dor.
Me dê o lume de chão, o colo grande do meu avô,
e as panelas a fervilhar no fogão de lenha.
Me dê os anos em que não havia finitude
e todos estávamos, ainda, à mesa no Natal.