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26.8.08

Adeus Pequim

Templo do Céu

Ainda o carro se dirigia para o aeroporto começaram as saudades. Claro que atenuadas por aquelas maiores que tinha de casa, mas eram saudades.
Dez dias na China e fiquei assim. Primeiro, boquiaberta de espanto perante a enormidade e a força de uma cidade como Pequim. Desde os hutongs mais pobres onde se come o melhor pato à Pequim, passando pelo surpreendente Templo do Céu, pela imponência da Cidade Proibida ali junto a Tiananmen, pela grandeza da Muralha e depois de olhos no céu para ver os mais modernos e arquitectonicamente arrojados arranha céus que trazem à cidade um grau de modernidade impressionante.

Pequim é esta mistura de Tai Chi e dança no Parque Ritan, de miúdos a comerem no McDonalds, de cantores de ópera reformados a embalarem os pássaros no Templo do Céu, do complexo da CCTV (a televisão chinesa), dos taxistas que não sabem ler, dos voluntários que falam inglês, dos restaurantes barulhentos, dos hotéis de sete estrelas, do país guardado pela sombra de Mao, do Wen que quer uns ténis Nike, da senhora que me olha a pele e diz que é muito bonita, das crianças que passam e páram a fixar-nos os olhos redondos, das quatro raparigas no descapotável que gritam ao porteiro do Suzie Wong se podem entrar, das crianças de roupa aberta entre as pernas, dos carrinhos de bebé de madeira, do Silk Market onde se vende toda e qualquer contrafacção, das banquinhas com espetadas de centopeia e escorpião, da impossibilidade de comunicação oral, do trânsito que nunca pára, dos funcionários do partido com a braçadeira presa com um alfinete, dos 12 filmes ocidentais que podem estrear por ano, do discurso único, da defesa incondicional do país, do esquecimento da Revolução Cultural, das linhas que não existem em lado algum sobre o massacre de Tiananmen, do Mao da praça ao Mao que abana o braço nos relógios kitsh, dos restaurantes internacionais, dos dumplings ao pequeno almoço, dos barulhos que fazem a comer, da curiosidade que tudo à nossa volta desperta, dentro de nós e dentro deles, que vivemos no mesmo planeta e habitamos mundos tão diferentes.

Hei-de voltar.