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6.4.07

A Casa

E então desligo o rádio e abro o vidro. Há o rio e os mergulhos, sandálias de plástico, minas de água e grutas, a geada a caminho da escola, o muro do jardim, a BMX com suspensão, neve em Fevereiro, pão com queijo e marmelada, beijos de língua atrás do pavilhão, apanhar amoras, correr até ao moinho, o colo da minha mãe, legos, caprisones de maçã, as mãos da minha avó, alguém que segura um aparelho dos dentes na mão enquanto abraça, as flores frescas e a água a correr no cemitério, trigamilhas quentes, passagens de ano e carnavais, o primeiro dia de escola, maillots e sapatilhas de ginástica, viagens de estudo, livros da patrícia, a água fria do poço azul, sestas na creche e caramelos, cabelos compridos, furos nas orelhas, bombocas, amores curtos, cartas escritas, filmes franceses no cinema velho, subir ao palco, vestir-me de joaninha, a letra torta e feia, os telefones, os telefonemas, as minhas amigas, a companhia guedes, as boleias, tardes de piscina, noites ao relento, tendas, sapatilhas sanjo, camas quentes, quartos frios, meias de lã, a minha cama. Desligo o rádio, abro o vidro e lembro-me do tempo em que não tínhamos medo do futuro.