Dia da Mulher - repost de 2005 porque não há tempo para mais
Depois de umas voltas na blogoesfera e pelas páginas dos jornais, não resisti a escrever sobre o pelos vistos «malfadado» dia da mulher.O Dia da Mulher é vivido de forma diferente, consoante as mulheres:
1. Primeiro, há as privilegiadas: fazem o que gostam, são bem pagas, têm dinheiro para pagar empregadas, se quiserem não têm problemas em mandar os maridos dar uma volta, vão de férias e, com sorte, nunca ninguém lhes perguntou se pretendiam engravidar quando foram a uma entrevista de emprego. Se calhar por causa das ditas empregadas, de preferência internas, que lhes educam os filhos...
1. 1. Destas, umas agem como ofendidinhas. Que não, que o Dia da Mulher é uma parvoíce, só faz com que se lembre uma vez por ano que somos o sexo fraco, blá, blá, blá.... A igualdade já existe, as oportunidades são iguais, não faz sentido este dia.
1. 2. Outras, mandam logo aquele chavão à tia-que-quer-aparecer-na-Caras: Eu não sou feminista, sou feminina... Afinal, se o querido até ganha umas coroas para irmos para os spas com as amigas.... Este dia é ridículo, dizem elas, porque eu adoro que me abram a porta do carro e me puxem a cadeira no restaurante para sentar o meu cú lipoaspirado.
2. Depois, há a chamada «dona de casa» (expressão que significa não mandar na dita mas trabalhar nela que nem uma moura e ainda ter um emprego nas horas de expediente). Essa ainda não percebeu bem para que serve o Dia da Mulher, porque continua a trabalhar de sol a sol, chega a casa e faz o jantar para os filhos, passa a ferro enquanto vê a telenovela (isto não é sempre porque desde que o marido comprou a Sport TV dá bola a toda a hora) e as melhores férias que teve.... não se lembra. Mas vive melhor que a mãe vivia. Essa se calhar ainda apanhou umas porradas do marido que chegava a casa bêbado e na altura não havia cá congelados, microondas e nada dessas coisas que são óptimas para a emancipação da mulher. Fica-se com muito mais tempo para encerar o chão da casa.
É este tipo de mulher que vai aos programas da Fátima Lopes e do Goucha...
3. Há as que se assumem.
Inês Pedrosa (às vezes um pouco de mais). Maria Filomena Mónica (brilhante artigo As mulheres portuguesas são parvas). Leonor Beleza (lúcida entrevista na Pública).
E é destas que eu gosto. Porque estas também são privilegiadas mas vêem para lá do umbigo. E porque também já foram descriminadas.
4. Eu.
Eu acho que o Dia da Mulher deve existir, não para falar do feminismo vs feminilidade, nem para fazer generalizações bacocas como os homens são todos assim e as mulheres todas assado. E deve existir enquanto se verificarem uma série destas coisas:
No mundo Ocidental:
1. Numa entrevista de trabalho, surja a pergunta: pensa engravidar?
2. Se engravidar e estiver com contrato a termo ser ameaçada de despedimento (este caso não se aplica se o seu problema for partir as duas pernas e ficar cinco meses de baixa em casa. Porque ninguém parte as pernas porque quer)
3. No ano em que engravidou não ser aumentada e o gajo que partiu as duas pernas ter aumento (que pode ainda ser alargado se as pernas tiverem sido partidas num jogo de futebol de 5 com os colegas de trabalho)
4. Ser mais fácil e mais aceitável pedir para sair mais cedo para pôr o carro na revisão do que para ir buscar o filho à creche
5. Entre um homem e uma mulher que se candidatam ao mesmo trabalho, perante iguais condições (ou mesmo em alguns casos a mulher mais qualificada), o homem for sempre escolhido por não se correr o risco de acontecer tudo o que está descrito nos pontos anteriores.
No mundo não-Ocidental (chamemos-lhe assim):
1. Houver excisão
2. Houver apedrejamentos por adultério
3. Queimaduras com ácido ou mesmo morte por ter sido violada
4. Não poder estudar
5. Ter de andar tapada
6. Não poder votar
7. Não poder nascer por ser mulher ou ser morta à nascença por isso
Sempre me irrita aquela maneira de viver apenas preocupado com aquilo que está á nossa porta ou dentro da nossa casa. A verdade é que se não fossem as desbocadas que andaram a queimar soutiens e as doidas das Simones de Beauvoir e essas putas dessas Virginias Wolfs, essas gajas armadas em «femininas e não feministas» bem podiam penar pela silicone toda do mundo que o melhor que lhes podia acontecer em termos de cirurgia plástica era coserem-lhes a boca com uma linha e cortarem-lhes o clitóris com uma lâmina de barbear. E enquanto isto tudo acontecer, seja a mim, a uma amiga minha ou à criança guineense, ou à bebé morta na China, ou à adolescente do Afeganistão, ou à mulher da Nigéria, vou-me insurgir contra todas essas vacas que acham que igualdade é ter um cartão de crédito só delas.