Não há aí mais ideias de génio?
Uma pessoa acorda cedo, chega ao trabalho ainda meio ensonada, a pensar até que hoje pode ser um bom dia, que os incêncios amainaram, que já só falta ouvir o Cavaco e leva com isto pelas trombas abaixo, na manchete do Público:PÍLULA CONTRACEPTIVA PODE DEIXAR DE SER COMPARTICIPADA
Dizem os entendidos, diga-se o nosso querido Ministro da Saúde (da saúde de quem, gostava eu de saber), que muita gente compra a pílula sem comparticipação, por isso mais vale deixar de comparticipar.
As pessoas serão assim incentivadas a ir aos Centros de Saúde onde a pílula é gratuita. A comparticipação, porém, manter-se-á para os menores de 18 anos.
Ora bem, a ver se eu percebo isto.
Eu compro a pílula muitas vezes sem comparticipação, porque não tenho médico de família, porque de vez em quando vou ao médico do trabalho e ele passa-me receitas para cinco ou seis caixas, ou quando vou ao ginecologista acontece o mesmo.
Mas isso sou eu, que vivo na cidade, que estou informada sobre o assunto, etc. e tal, que até tenho médico na empresa, and so on. Isso sou eu, que não me importo de dar dois ou três euros a mais para não ter de ir buscar receita. MAS HÁ QUEM NÃO FAÇA ASSIM. HÁ QUEM LÁ VÁ E TENHA SEMPRE RECEITAS E PAGUE O MENOS POSSÍVEL, PORQUE O DINHEIRO NÃO ESTICA.
Além disso, gostava de perguntar ao senhor ministro, se ele alguma vez foi a uma farmácia e se já ouviu falar de uma coisa que se chama «venda suspensa», que é a forma como o tuga se desenrasca para ter os medicamentos antes de morrer ou neste caso engravidar na fila de espera dos centros de saúde.
Chegamos portanto aqui:
Num país onde o aborto é ilegal, estamos a desincentivar, ou pelo menos a tornar mais caro, logo a desincentivar, o uso do contraceptivo feminino. O que num país como o nosso, só pode ser uma boa medida. Porque o que o nosso país estava mesmo a precisar era disto. Não é a educação sexual nas escolas, não é o planeamento familiar, não é a legalização do aborto até às 12 semanas, não é a distribuição de contraceptivos o mais barato possível.
Não. O que nós precisamos é de «CORTAR».
Pois corte-se então. Corte-se em quem já tem pouco dinheiro para comprar pílulas e vai deixar de o fazer. Afinal, se calhar o senhor ministro até usa o método do calendário, isto se ele ainda fode, e se o número de gravidezes indesejadas aumentar, podem sempre dizer que os medicamentos para as úlceras continuam a ser comparticipados. Ou que há muita casa de abrigo para crianças abandonadas, ou que o número de casais adoptantes em Portugal é cada vez maior.
Ao senhor Ministro das Doenças um redondo «vá para o caralho que o foda»!