lista de compras: outubro 2009

24.10.09

Aqui em casa há uma lareira acesa que a esta hora já não tem chama mas ainda dá calor. Um calor estranho, este, que traz à memória tantos momentos passados, agora que o Natal se aproxima e as recordações nos aquecem e nos deixam tão longe de tantas coisas que sempre demos por certas e por boas e que aconchegam o coração. Tantas coisas se passaram aqui nesta divisão da casa onde agora fumo cigarros atrás de cigarros sabendo que não o posso fazer. Como tantas outras coisas que fiz sabendo que não devia. Mas que me mantiveram viva, que me levaram para outros caminhos, tão assustadores quanto cheios de desejos e emoções e peles eriçadas e medo. Muito medo. Sei bem que de cada vez que olhar para esta lareira a chama me vai dizer que era tão bom o que havia debaixo das cinzas, que era tão sereno e reconfortantemente familiar o que me fazia correr atrás dos dias sem sobressaltos. E a minha avó sempre me avisou para eu não brincar com o lume. O que ela não percebeu é que eu nunca consegui resistir à cor intensa das brasas. Ainda que me queimasse.

a way of blinking



«People have a way of blinking and missing the moment, that moment that could have changed everything»

22.10.09

Para me esquecer que dia é hoje

21.10.09

Repost a caminho de casa

E então desligo o rádio e abro o vidro. Há o rio e os mergulhos, sandálias de plástico, minas de água e grutas, a geada a caminho da escola, o muro do jardim, a BMX com suspensão, neve em Fevereiro, pão com queijo e marmelada, beijos de língua atrás do pavilhão, apanhar amoras, correr até ao moinho, o colo da minha mãe, legos, caprisones de maçã, as mãos da minha avó, alguém que segura um aparelho dos dentes na mão enquanto abraça, as flores frescas e a água a correr no cemitério, trigamilhas quentes, passagens de ano e carnavais, o primeiro dia de escola, maillots e sapatilhas de ginástica, viagens de estudo, livros da patrícia, a água fria do poço azul, sestas na creche e caramelos, cabelos compridos, furos nas orelhas, bombocas, amores curtos, cartas escritas, filmes franceses no cinema velho, subir ao palco, a letra torta e feia, os telefones, os telefonemas, as minhas amigas, a companhia guedes, as boleias, tardes de piscina, noites ao relento, tendas, sapatilhas sanjo, camas quentes, quartos frios, meias de lã, a minha cama. Desligo o rádio, abro o vidro e lembro-me do tempo em que não tínhamos medo do futuro.