É Natal, hã, hã...
Ando aqui há dias a matutar que devia escrever alguma coisa sobre o Natal, e tal, ou dar prendas, ou fazer listas de coisas que quero (fazendo jus ao nome aqui do tasco), ou então dar prémios, ou candidatar-me a eles (alguém sabe onde andam os formulários?), ou sei lá, falar das festas e dos jantares de Natal a que faltei porque não tenho paciência mas olha, até me calhou uma viagenzita e assim safei-me das estuchas dos repastos de empresa com gajas a pavonearem-se, velhos bêbados e canções românticas como BSO.Em vez disso fui até à Suíça, país mais-que-civilizado, houve neve, trabalho, chatice com o troglodita que me calha sempre na rifa, raclette, charbonnade, chocolates, muita coca-cola, um gorro lindo de morrer, horas de espera no aeroporto, dizer mais uma vez que não, quero lá saber disso da pátria, mas por que raio, sim, portuguesa no passaporte, mas se não fosse e se tivesse de mudar para viver melhor, what the heck, fazia-o sem pestanejar, mas como é possível?, é possível, é....
Quero lá saber disso da pátria, que se foda quem maltrata as crianças, quem fecha os olhos para o vizinho que bate na mulher, que acha lindo que o outro do lado fuja aos impostos e queira saber como se faz, que se queixe da vida e compre 30 telemóveis por ano, que gaste rios de dinheiro para viver num t3 em massamá e depois grite com toda a gente porque está horas nas bichas. Que se foda a pátria que deixou o Samuel vir bater à minha porta sem caderno nem lápis para entrar na escola, que não deixa que um homem durma descansado no seu buraco do eixo norte-sul, que não diga nada à mulher da esquina que guarda atrás dela uma pilha de caixas de telepizza à espera de um dia ter família com quem as partilhar. Que se foda este país de doutores e senhores engenheiros e gentinha jet set e Lilis Caneças e Cinhas Jardins que não têm onde cair mortas, um país onde um senhor qualquer é rei, mais a sua prole, um país que está prestes a eleger o Cavaco Silva porque sim, porque o homem é que vai endireitar isto. Que se foda este rectângulo de gente pouco civilizada, mesquinha, pobre de espírito, cérebro de galinha, onde ninguém tem culpa de nada e a Câmara tem culpa de tudo.
Para mim, o mundo é como o Natal. Dia 25 de Dezembro é para todos. Infelizmente não há passaporte que diga isso.