Ginga
Finalmente consegui ver na totalidade o documentário GINGA, de Fernando Meirelles (sim outra vez), que a Sic Notícias ora passa inteiro ora passa em manta de retalhos. É de uma sucessão de retalhos que se trata, tudo com uma bola pelo meio, uma filmagem excelente e uma montagem ainda melhor.
Há a história de Paulo César, que quer triunfar no mundo do futebol, mas é várias vezes rejeitado por não ter físico a juntar à arte que lhe sobra nos pés. Percebemos porquê. Em casa de Paulo César só há uma refeição diária e o rapaz é arrumador de carros durante a noite. É por isso que acaba a chorar no autocarro que o leva do fim do sonho de volta à favela.
Há a história de Sérgio, o paulista branco, de família abastada, que sofre os problemas da discriminação quando chega para mostrar como ginga. Com aparelho nos dentes, a pele demasiado clara e chuteiras demasiado boas, Sérgio pede para mostrar primeiro e falarem depois.
Há a história de um preto de sorriso lindo que ginga com uma perna só. Como não tinha um real para entrar no café que passava o jogo do Flamengo no cabo, teve de ficar na rua a ouvir apenas o que se passava no campo. Foi aí que um carro o atropelou. Joga agora com uma perna e duas muletas.
Há a história de uma equipa de futebol que treina na praia, dentro do mar, a puxar bois e que viaja oito horas rio acima para disputar um torneio estadual.
Há quatro morenas que jogam futvólei na praia.
Há dezenas de miúdos que gingam com uma bola tal e qual vemos nos anúncios do Ronaldinho.
Há imagens de Robinho, na altura ainda estava no Santos, a jogar num pavilhão com seis ou sete anos. Há o Robinho estrela, de óculos e camiseta de marca. Um dos Paulos Césares que conseguiu chegar ao estrelato.
Há futebol.