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30.12.05

Ginga



Finalmente consegui ver na totalidade o documentário GINGA, de Fernando Meirelles (sim outra vez), que a Sic Notícias ora passa inteiro ora passa em manta de retalhos. É de uma sucessão de retalhos que se trata, tudo com uma bola pelo meio, uma filmagem excelente e uma montagem ainda melhor.

Há a história de Paulo César, que quer triunfar no mundo do futebol, mas é várias vezes rejeitado por não ter físico a juntar à arte que lhe sobra nos pés. Percebemos porquê. Em casa de Paulo César só há uma refeição diária e o rapaz é arrumador de carros durante a noite. É por isso que acaba a chorar no autocarro que o leva do fim do sonho de volta à favela.

Há a história de Sérgio, o paulista branco, de família abastada, que sofre os problemas da discriminação quando chega para mostrar como ginga. Com aparelho nos dentes, a pele demasiado clara e chuteiras demasiado boas, Sérgio pede para mostrar primeiro e falarem depois.

Há a história de um preto de sorriso lindo que ginga com uma perna só. Como não tinha um real para entrar no café que passava o jogo do Flamengo no cabo, teve de ficar na rua a ouvir apenas o que se passava no campo. Foi aí que um carro o atropelou. Joga agora com uma perna e duas muletas.

Há a história de uma equipa de futebol que treina na praia, dentro do mar, a puxar bois e que viaja oito horas rio acima para disputar um torneio estadual.

Há quatro morenas que jogam futvólei na praia.

Há dezenas de miúdos que gingam com uma bola tal e qual vemos nos anúncios do Ronaldinho.

Há imagens de Robinho, na altura ainda estava no Santos, a jogar num pavilhão com seis ou sete anos. Há o Robinho estrela, de óculos e camiseta de marca. Um dos Paulos Césares que conseguiu chegar ao estrelato.

Há futebol.