Reduza, reduza!
Nada como uma viagem de avião de seis horas para ler os jornais de uma ponta à outra e poder reparar em tudo o que se escreve. No balcão da TAP escolhi o Público e foi por aí que comecei. Espantada, com uma das notícias de 1ª página. Sim, primeira.Dizia assim o título: «Filete de pregado com tostado de migas e azeitonas» (ok, não sei se era bem assim, mas não consigo decorar nomes de receitas tão grandes, mesmo em letras grandes).
Era isto primeira no Público. Pensei então, isto deve ser uma cena do caraças. Uma receita do outro mundo. Um cozinheiro que chega à capa de um jornal tem de ter alguma coisa para contar. Deve ser um prato divinal, tão bom e tão fácil de preparar, tão lindo, tão barato, tão premiado internacionalmente. Por isso está aqui na primeira página.
Fui lá ler e confesso que me desiludi. Primeiro, era mais um prato em montinho. Não sei se já repararam que todas as receitas que aparecem são em montinho. Os purés, os peixes por cima e as ervas aromáticas a rematar. Fazem um montinho no meio do prato e fica lindo.
Adiante então, que a foto não tinha nada de especial. Comecei a ler a receita e também me desiludi. Afinal, tinha de reduzir não sei quantas vezes não sei quantos preparados (isto do reduzir tira-me logo a fome), e depois, fantástico do fantástico, devia aquecer o pão ou a broa ou lá o que era «na salamandra». Ora para mim Salamandra é um género de lareira mas em ferro, que aquece muito bem as salas e que funciona a lenha. Suspeito que aqui queira dizer outra coisa, senão a receita não estaria numa primeira página de Agosto mas sim numa de Dezembro, sugerindo: aproveite para se aquecer e cozinhar um pregado.
Cheguei ao fim a pensar que nunca iria fazer aquele prato, mas contente pelo cozinheiro que afinal só teve mesmo de matar um simples pregado para chegar a uma primeira página de um jornal.